Leite materno pode valer mais do que ouro; pode valer uma vida

O ato de amamentar, de ser capaz de nutrir seu filho com alimento do próprio corpo é um desejo – e até um sonho – inerente a todas as mães. Chega a ser considerado uma extensão da gravidez.

Além de todo o valor sentimental que a amamentação tem para a mãe e da ligação emocional que o ato promove entre ela e bebê, o leite materno é considerado o alimento mais completo para o recém-nascido contendo proteínas, vitaminas, gorduras, água e anticorpos essenciais para o pleno desenvolvimento de uma criança saudável.

Entretanto, fatores físicos e psicológicos podem fazer com que muitas mamães produzam leite materno em pequenas quantidades ou simplesmente não produzam. Este último é o caso da empresária Ana Paula Pagung, 26. Ela só foi perceber que não estava produzindo leite após levar sua filha Ana Clara – nascida no dia 24 de fevereiro – à primeira consulta no pediatra, onde tomou um susto: a bebê tinha perdido mais de um quilo na primeira semana de vida (o normal é que se perca até 10% do peso no dia da alta da maternidade, o que depois é recuperado).

A empresária realizou todos os exames solicitados pelo pediatra e foi ao banco de leite do Hospital da Polícia Militar (HPM) para tirar dúvidas e pegar dicas sobre amamentação, quando descobriu que possuía um déficit na produção de leite, consequência de uma cirurgia de redução de mama realizada anos atrás. Por causa disso ela não seria capaz de alimentar a pequena Ana Clara.

A situação pirou quando a empresária e seu marido Pedro Bourdon, 33, compraram os mais diversos tipos de leite indicados para a complementação da alimentação da bebê e constataram que ela era intolerante a todos eles. Desde então o casal vivem uma luta e correria diária pelos bancos de leite espalhados pela região metropolitana. A situação é ainda mais grave, pois muitos desses bancos encontram-se com os estoques abaixo do necessário para alimentar as crianças que deles dependem.

Contando com o envolvimento e movimentação de familiares, amigos e até vizinhos solidários à necessidade da pequena Ana Clara, a família consegue diariamente uma média de três potes de 200ml de leite materno o que ainda não é o ideal para a alimentação da bebê. Essa rotina de correr atrás do leite se repetirá até a pequena Ana completar o sexto mês de vida, quando poderá começar a ingerir outros alimentos.

“O leite materno vale mais do que ouro para nós. É uma situação desesperadora, pois é o único alimento que o neném pode ingerir e dependemos a solidariedade das outras pessoas. Ana Clara precisa de cerca de um litro, todos os dias”, contou a empresária, que recorre aos bancos de leite do HPM, do Hospital das Clínicas e do Hospital Dório Silva para alimentar sua neném.

Casos como o da pequena Ana Clara, de quatro meses de vida, acontecem todos os dias nas maternidades espalhadas pelo Espírito Santo e a vida dos bebês depende de pessoas dispostas a dedicar parte de seu tempo para doar leite materno aos bancos de leite, um verdadeiro ato de amor ao próximo. Ação que não necessita, sequer, sair de casa.

As equipes especializadas dos oito bancos de leite espalhados pelo Estado dão as instruções para que a coleta de leite seja feita dentro dos próprios domicílios e, quando o pote – normalmente de 200ml – enche de leite, passam na casa dos doadores para recolhê-lo.

O banco de leite do HPM atende atualmente cerca de 16 recém-nascidos, mas, a exemplo da maioria dos bancos de leite do Estado, encontra-se com metade do estoque mensal necessário.

A capitã Vera Lúcia, coordenadora do banco de leite do HPM há 20 anos, diz que há uma falta de discernimento e consciência de muitas mamães sobre em relação à doação de leite materno. “Quando falo que doar leite materno é um ato de amor é porque realmente muitas vidas dependem disso. Muitas mães acham a coleta trabalhosa e preferem desperdiçar. Não imaginam quem tem um neném de 600g há 16 dias internado na UTI que depende disso. Se tirar 20ml por dia já ajuda. Não tem que tirar tudo de uma vez. Enquanto uma mama está amamentando, a outra pinga, e a coleta deste leite pode ser feita”, salientou a capitão.

Ela informa que o HPM vai buscar leite em toda a extensão dos municípios de Vitória e de Vila Velha, de segunda a sexta-feira, e que todo o aparato necessário para a coleta, como os recipientes, são fornecidos.

Hospital Infantil e Maternidade de Vila Velha – Himaba – Contato: (27) 3636-3187 – 3636-3151

Santa Casa de Misericórdia de Vitória – Centro de Vitória – (27) 3212-7246

Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo – Bento Ferreira, Vitória – (27) 3636-6568

Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes – Maruípe, Vitória – (27) 3335-7377

Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves – Contato: (27) 3289-5964

Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim – Ferroviários, Cachoeiro de Itapemirim – Contato: (28) 3521-7045

Hospital Maternidade São José – Centro, Colatina – Contato: (27) 2102-2100 /