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Lama de minério: pescadores de Baixo Guandu ainda não receberam auxílio

Tragédia Rio Doce 1Cinco de novembro de 2015: o fim de um distrito, a morte de 19 pessoas, a destruição de diversas famílias e um prejuízo incalculável ao meio ambiente e a diversas famílias às margens do Rio Doce no estado de Minas Gerais e Espírito Santo. O desastre provocado pela quebra da barragem de rejeito de minério da Samarco é sentido até hoje e a população prejudicada intercala os dias em luta pela sobrevivência e por justiça. Em território capixabas as cidades de Colatina, Linhares e Baixo Guandu foram diretamente atingidas. No estado mineiro, principalmente Mariana e Governador Valadares e outras 34 cidades.

No último domingo (29) na localidade de Sapucaia, em Baixo Guandu, interior do ES, foi realizada mais uma manifestação para receber o auxílio financeiro dos atingidos pela lama da barragem de Mariana, em Minas Gerais. Esta foi organizada por um vereador, e aconteceu na linha do trem da estrada de ferro da Vale (uma das controladoras da Samarco, juntamente com a BHP Billiton). Segundo a população, o Rio Guandu, que deságua no Rio Doce e já era poluído, não recebeu nenhuma melhoria desde a tragédia. A promessa da Samarco era de investir R$ 12,8 milhões para tratamento, mas isso não aconteceu e as vítimas precisam conviver com a lama, que fica no fundo do rio, mas sobe a cada chuva.

“A água tem veneno de lavouras. Não temos carro pipa, só água do rio guandu. Essa água é captada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), que faz o tratamento. Mas a água tem dado alergia nas pessoas quando elas tomam banho. Tanto o reflorestamento quanto a recuperação do Rio Doce não foram feitos. Estamos de mãos atadas porque não podemos cobrar. Se chamamos a polícia somos ameaçados”.

Um pescador, que tem medo de divulgar o nome por já ter feito série de denúncias pelo descaso da Samarco, conta que é casado e tem três filhos (2, 4 e 6 anos), e está impedido de trabalhar. Com a tragédia e a proibição da pesca, ele ficou sem renda e até hoje não recebeu o auxílio. A mesma situação atinge cerca de 200 outros moradores da localidade de Sapucaia. Baixo Guandu foi a primeira cidade a ser atingida pela lama da barragem.

“Estou temendo pela minha vida. Quero uma posição perante a Samarco e Renova. Ligo várias vezes e já cheguei a pedir sexta básica. Minha esposa não trabalha. Sobrevivemos de doações e de um bolsa família de R$ 416. Dependemos disso. Tenho uma filha com adenoide, que precisa de remédios e todos os comprovantes”, disse. O auxílio financeiro representa entre R$ 1300 e R$ 1400 reais. Ele é pago aos atingidos pela tragédia que devastou o Rio Doce. No caso da vítima, ele tem direito a mais 20% por cada filho e pagamento retroativo.

“Fiz o formulário junto com todo o mundo, desde a tragédia chegou a Mariana. Fui várias vezes atrás da Renova e eles me mandam aguardar. Já recebi ligação dizendo que me pagariam, mas até hoje nada. E eu preciso! Passo dificuldades. Fui processado pela Vale por ter parado o trem enquanto estava me manifestando com outras pessoas e a vale nos processou por ter parado o trem. Ficamos 12h em cima dos trilhos”, relatou.

Os moradores da cidade, sobretudo os que viviam da agricultura e pesca, há dois anos aguardam receber auxílio financeiro aos atingidos pela tragédia no Rio Doce.

Agressão
Um homem de 34 anos (que não será identificado por segurança), foi agredido por um policial militar na localidade de Sapucaia, em Baixo Guandu, na manhã de domingo (29). “Já fizemos várias manifestações. Ontem eu fui convidado por um vereador para participar de outra, na linha do trem. O segurança da Vale acionou a polícia e eu comecei a filmar. Precisei correr para uma passarela para não ser agredido, porque ele correu atrás de mim. Fui para a casa de um amigo”, afirmou.

O homem disse que outros PMs pediram para que companheiro parasse, porque a manifestação estava acabando. Mesmo assim, ele teria ido até o local onde a vítima estava para fazer ameaças. “Ele é sargento. Me disse várias coisas, que eu não o conhecia e se soubesse o que já fez na vida, nem falava com ele. Apontou uma arma pra mim. Várias pessoas presenciaram isso. PMs tentaram tomar o celular de outras pessoas, porque tem imagens dele correndo atrás de mim na passarela. Mas pessoa que filmou está com medo”, relatou.

O homem relatou que foi orientado pela corregedoria da Polícia Militar a procurar o batalhão de Baixo Guandu para registrar Boletim de Ocorrência, mas que está com medo até de sair na rua. “Quero conversar direto com um promotor. Hoje já liguei para a promotoria, mas só será possível na quarta-feira. Quero fazer o BO, mesmo com medo”.

Fundação Renova
A Fundação Renova, responsável pelas ações de reparação de danos ambientais, sociais e econômicos da tragédia em Mariana, informou por nota que cerca de 3,7 mil pessoas recebem os cartões auxílio no Espírito Santo, que foram entregues considerando um cadastro emergencial logo após o rompimento da barragem.

No caso do homem, não foram apresentados documentos para comprovar a dependência econômica da atividade. A renova ressaltou que o cadastro das pessoas atingidas é uma ferramenta que permite conhecer o impacto em cada indivíduo e repará-lo por meio de seus programas e ações, não necessariamente por meio de cartões auxílio.

A Fundação Renova disse que vai destinar R$ 500 milhões para sistemas de tratamento de esgoto nos 39 municípios impactados. Especificamente para a cidade de Baixo Guandu serão destinados cerca de R$ 12,6 milhões. Informou também que a bacia do Rio Doce tem bactérias e coliformes fecais como principais poluentes. E que 80% do efluente doméstico da área atingida segue para os cursos d’água sem tratamento.

A nota diz ainda que serão feitas parcerias com as prefeituras, para capacitação e apoio técnico, além da gestão do processo. A construção dos equipamentos ficará a cargo de cada município, e o acesso ao dinheiro dependerá da aplicação de um Plano Geral de Gestão, para garantir a destinação do recurso aos programas de saneamento. As obras devem começar em 2019 e a expectativa é de que em 5 anos as ações de saneamento já tenham resultados perceptíveis.

Polícia Militar
A Polícia Militar informou em nota que não coaduna com ações violentas de seus integrantes. E que a situação será apurada, tão logo a denúncia seja formalizada junto à Corregedoria da PM.

Vale
Também por nota a Vale informou que não comenta processos judiciais em andamento.

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