Juventude na Cultura

Olá! Sempre peço aos amigos que enviem sugestões de pautas para nosso Blog, comentários ou recadinhos. Após uma polêmica que surgiu em uma rede social e especialmente após o sucesso de organização do aniversário da Unidos de Jucutuquara na última terça-feira (29/01), me pediram mais informações sobre o novo departamento da G.R.C.E.S. Unidos de Jucutuquara – O DEPARTAMENTO CULTURAL. Sou conhecedora da vontade de trabalho que essa turma tem e por esse motivo, solicitei que Marcus Vinicius (pesquisador, historiador e membro do Dep. Cultural) escrevesse um pouco da trajetória do grupo. 

“Permitam-me secionar nossa história em intempéries.

Acredito não gerar tanta estranheza, elas são demasiadamente constantes no passado e no presente do cotidiano carnavalesco. São inseridos num cenário de extrema intempérie social e racial que nossos ancestrais deram vida ao amado samba e, adiantando, diminui-las do presente e do futuro de nossa agremiação é um de nossos principais objetivos.

A primeira delas acontece no ano de 2011, durante a preparação para o carnaval de 2012, mais precisamente no dia 21/12. A então gestão eleita para o biênio 2011/2012 anuncia oficialmente para comunidade e imprensa a desistência para o carnaval de 2012. Em uma reunião emergencial da comunidade, marcada para o mesmo dia, baluartes, membros e ex membros da agremiação desabafaram, com microfone em punho, as causas que levaram a rica e luxuosa Jucutuquara se encontrar em situação de tão extrema.

Em uma breve generalização, críticas ao afastamento da comunidade geográfica e àqueles que construíram a história da agremiação. Com a força de vontade daqueles que ali estavam, Jucutuquara foi para a avenida de forma decente, alcançando o quinto lugar do concurso.

Aquela falsa ameaça assustadora resultou numa mudança radical nos rumos da agremiação. O saudoso Mestre Ditão, renomado mestre de bateria da agremiação e pessoa de extrema importância na realização e manutenção da cultura do bairro assumiu a escola. Foram duas gestões com ações voltadas para resultados emocionais, resgatando o orgulho de ser Jucutuquara independente de títulos, entre jovens e adultos. Feijoadas de São Jorge, ensaios pelas ruas do bairro, apresentações na festa de São Sebastião e encontros semanais na sede da escola são alguns dele.

O período de valorização do corujal só findou com a segunda intempérie de nossa saga, quando, quando, a três dias do desfile, Mestre Ditão descansou. Sim, Mestre Ditão não morreu! Ele apenas percebeu que sua missão (aquela que acabei de citar), foi cumprida e se retirou para um descanso, deixando que aqueles que ficassem dessem continuidade àquilo que ele iniciou.

Aqueles jovens que vivenciaram a volta da rica Jucutuquara para a suas origens bairristas, perceberam que o descanso do Mestre não foi apenas uma perda presencial, mas também memorial! As histórias (tanto da escola quanto do bairro) contadas pelo Mestre naqueles encontros citados pareciam crônicas que nem Rubem Braga colocaria defeito.

Aquelas fábulas, que faziam qualquer um, novato ou baluarte, sentir orgulho da história da agremiação que fazia parte se foram, sem que houvesse um registro para posteridade. Foi assim que em outubro de 2015, os jovens aprendizes decidiram propor a fundação de um Departamento Jovem na Unidos de Jucutuquara, com a função de valorizar a vertente cultural da agremiação ao mesmo tempo que prestasse apoio aos quesitos da agremiação.

O projeto não obteve resposta pela gestão da época. Foi arquivado, popularmente dizendo.

Arquivado pela escola, mas vivo na esperança daqueles que o formaram. Na gestão eleita para o biênio 2018/2019, um daqueles jovens foi convidado para ocupar o cargo de Diretor Cultural. A primeira ação na diretoria foi a formação de um grupo nos moldes do DPT Jovem, fundando o Departamento Cultural Adilson Ribeiro, uma homenagem aquele que foi a causa e inspiração da iniciativa.

O Departamento Cultural hoje é uma realidade. Tem o objetivo de resgatar, registrar e difundir a história e a cultura da Unidos de Jucutuquara e seu bairro sede.

Desde sua fundação oficial, em 9 de junho de 2018, o Departamento realizou diversas ações inseridas nesses objetivos selecionados: limpeza da sede e organização dos objetos históricos da agremiação; registros de memórias e arquivos dos baluartes da Nação; divulgação de curiosidade sobre o bairro e escola através das redes sociais; intervenção artística no barracão de alegoria; grafite no portão do barracão; explicação do enredo nos eventos da escola, etc.

O Departamento conta hoje com 11 membros voluntários que ocupam ou já ocuparam os mais variados cargos dentro da Unidos da Jucutuquara, desde ritmistas a ex-presidentes e conselheiros.

Segue a ideologia de valorização cultural da Jucutuquara, firmando o objetivo de conscientização da importância da cultural e da capacidade social do samba e suas vertentes.”

***

É emocionante ler essas palavras de resgate de memórias e paixões de nossa cultura. Aguça o sentimento de pertencimento a uma comunidade que luta por ideais novos e antigos. Desperta o querer de respeitar as antigas tradições, ciente do valor que elas têm para o presente e futuro. São pessoas, acima de tudo, com pensamento aberto para o novo, mostrando o quão importante é dar continuidade aos projetos nas escolas de samba.

Pessoas que também se fazem presentes em outras agremiações, com outros nomes, com outros projetos, mas com a mesma vontade de trabalhar para que a grande festa do carnaval aconteça.

Vou ficando por aqui, inspirada pela poesia da história. Aberta para sua contribuição aqui no ABRE ALAS.