Dólar Em baixa
5,243
19 de abril de 2024
sexta-feira, 19 de abril de 2024

Vitória
21ºC

Dólar Em baixa
5,243

Infância abrigada: a espera de um lar

Por Larissa Barcelos

O abrigo “Construindo Caminhos” oferece cuidado, carinho e amor para as crianças cujo os direitos foram violados ou desatendidos, seja por abandono, por exposição a negligências dos responsáveis ou por viverem em situação de risco, como, por exemplo, ter pais dependentes químicos. Além disso, proporciona a elas uma família, que acompanha em suas atividades escolares e de lazer. O lar acolhe 24 crianças de ambos os sexos, de zero a seis anos de idade, incluindo crianças portadoras de necessidades especiais e duas mais velhas, para prevalecer o vínculo dos grupos de irmãos.
Uma das crianças é a Ingrid, nome fictício, que está no abrigo há cinco anos e chegou quando tinha oito meses de idade. Ela conta que não vê a hora de encontrar uma mãe e um pai que dê muito amor para ela. “Eu quero ir para casa um dia com minha mãe e com meu pai. Eles vão me abraçar todos os dias quando eu chegar em casa da escola. Eu gosto de ficar aqui também, pois tenho muitos amigos e as tias são legais, mas deve ser legal ter uma família. Quando eu crescer vou ter um montão de dinheiro porque eu vou ser atriz de novela e vou poder ajudar meus papais”, explica a menina.
Outra criança é o João, nome fictício, ele está no abrigo há quatro anos, faz parte de um grupo de irmãos e foi levado para o local aos três anos com sua irmã mais nova. O menino comenta que já acostumou a viver na casa, mas ainda têm esperança de morar com os pais. “Eu moro aqui há muito tempo junto com minha irmã e outras crianças de outros pais. Eu gosto daqui, já estudo, já desenho e jogo bola. Eu queria um computador para jogar lá também. Minha mãe vem ás vezes nos ver e sempre fala que é para mim vigiar minha irmã porque um dia ela vai buscar a gente para morar com ela”, completa.
O lar conta com três casas, exigidas pela Prefeitura de Cariacica, para divisão de idade dos internos, que são identificados e conduzidos para o abrigo por meio de uma parceria com o conselho tutelar e a vara da infância, no qual recebem a denúncia, verificam a veracidade e realizam o acolhimento, acompanhando todo o processo até a adoção ou reintegração da criança na família de origem. O local também tem uma parceria com a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que irá acompanhar as crianças que sofrem de algum problema especial.
Equipe Técnica
São responsáveis pela casa de acolhida uma coordenadora, uma psicóloga, uma assistente social, professores e cuidadores que realizam o acolhimento, instruem e educam para posterior reinserção nas famílias de origem, caso já estejam aptas ou em novas famílias por meio da adoção. Essas crianças também recebem atendimentos psicológicos, médico e odontológico, além da escola regular, projetos e dinâmicas. Para as crianças acima de três anos, há atendimentos diferenciados, no qual explicam os motivos de elas não estarem com os pais, de forma que haja a aceitação.
A coordenadora do abrigo Maykiane Andrade, 26 anos, comenta que, antes de entregar uma criança para a casa de acolhimento, são realizadas várias tentativas de reinserção na família de origem ou parentes próximos. “Quando a gente percebe que os pais genitores não têm condições de cuidar, nós procuramos os tios, tias, avó, avô ou parentes mais próximos para ver se eles querem se responsabilizar por essa criança. Caso ninguém da família queira e nós já tentamos todas as possibilidades familiares, então ela será encaminhada para o abrigo que atende a idade correspondente a dela”, explica.
A assistente social Sabrina Oliveira, 33, relata que quando a criança chega a um abrigo ela está assustada, por isso é necessário um atendimento que demonstre afeto e dê a sensação de proteção para elas. “O nosso papel é fornecer o cuidado da melhor maneira possível, pois sabemos que é fácil entrar, mas é difícil sair. Para deixá-las ocupadas realizamos muitas atividades, assim não irão ficar ansiosas procurando pelos pais. Além disso, uma vez na semana elas recebem a visita dos pais, que passam em torno de duas horas aqui. Nos finais de semanas temos os momentos de recreação”, afirma Sabrina.
Crianças que foram destituídas do poder familiar aguardam adoção
As crianças que foram acolhidas institucionalmente somente são direcionadas para a adoção quando todas as possibilidades domiciliares por parentescos foram esgotadas, isso, a fim de assegurar o direito dela à convivência familiar. A ação é regulamentada pelo Código Civil e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme determina que por ser uma decisão definitiva e irrevogável, requer que a pessoa ou casal que adota deve estar preparado e apresentar maturidade para acolher e cuidar de uma criança que já pode ter passado por experiências afetivo-familiares dolorosas.
As pessoas que desejam adotar uma criança precisam ter mais de 18 anos, ser pelo menos 16 anos mais velho do que o adotando, possuir idoneidade moral e oferecer ambiente familiar adequado. Quando esses requisitos forem atendidos, a pessoa deve procurar a Vara da Infância e Juventude do município em que residem. No local, eles irão instruir e informar todos os documentos necessários para dar entrada ao processo de ‘Habilitação para Adoção’. A partir disso serão realizadas entrevistas sociais e psicológicas, visita domiciliar e curso de formação. Assim, dará início as visitas às crianças que estão nos abrigos e que tenham o perfil desejado.
A coordenadora da casa de acolhida ‘Construindo Caminhos’ Maykiane Andrade, 26 anos, comenta que no local é realizado um processo de aproximação para que aja a aceitação da criança com quem deseja adotá-las. “É feito todo um trabalho, tanto aqui quanto na vara da infância para que as crianças não se intimidem. A gente vê que elas pedem por uma mãe ou um pai e esse ano duas já foram adotadas. Esse termo de aproximação que a gente faz é para que elas os acolham. Por isso eles vêm e visitam a criança para verem se elas os aceitam, como eles também verem se aceitam elas”, conclui Maykiane.
A assistente social da Vara da Infância e Juventude de Cariacica Michela Siqueira, 38, cita que é no local que se faz toda a preparação dos casais que querem adotar atuando em duas frentes. “A gente trabalha primeiro com os casais que estão procurando abrir o processo de adoção, recebendo-os, conhecendo e orientando-os. E o trabalho com as crianças que é menor por que quem toma essa frente é a equipe do abrigo, fazendo sempre uma avaliação geral, porque nosso papel quanto assistente social é avaliar as condições e encaminhar para o juiz que toma a decisão final” finaliza Michela.
A psicóloga Jéssica Ferrari, 25, conta como é tratado o assunto adoção com as crianças, para que elas saibam o motivo de estarem no abrigo e de serem adotadas. Segundo a psicóloga algumas crianças já entendem o motivo do abrigo, outras nem tanto, mas sabem que não estão na casa delas. “A gente não trabalha o assunto adoção com todas elas porque algumas vão voltar a morar com a família de origem. Mas para as crianças que já foram destituídas do poder familiar são realizados trabalhos específicos. Apresentamos de forma lúdica as pessoas que querem adotá-las e vai percebendo as reações, conversando de forma que elas entendam, sempre devagar até criar o vínculo”, completa Jéssica.

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas