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Imponentes, com diversidade de produtos e estacionamento: uma farmácia de grande rede em cada esquina

20170330_115447Para quem mora na Grande Vitória, sobretudo nos municípios de Vitória e Vila Velha, é impossível não notar: grandes imóveis, de residências ou comerciais, viraram farmácias. Não desconhecidas, mas de grandes redes farmacêuticas. Nas principais esquinas, nos pontos mais valorizados, antigas construções têm sido colocadas abaixo e novas lojas, com as mais diferentes seções e produtos, além de espaço para estacionamento, têm sido erguidas em questão de semanas.

Em um primeiro olhar, isso pode parecer estranho, devido à crise econômica pela qual o Brasil passa. Só que o mercado farmacêutico não conheceu a crise. Enquanto praticamente todos os setores da economia brasileira tiveram retração no faturamento, as farmácias, nos últimos dois anos, tiveram crescimento sempre acima dos dois dígitos: em 2015, de 12,6%, e em 2016, de 11,3%, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento está relacionado à maior expectativa de vida dos brasileiros – atualmente somos 16 milhões de pessoas com mais de 65 anos e a expectativa é que, em 13 anos, este número quase dobre. Mas não é somente isto.

De acordo com o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Espírito Santo (CRF-ES), Gilberto Dutra, além de facilidades com a indústria, o apelo comercial das grandes redes, o que ele considera algo “perigoso”, é uma das principais estratégias para este crescimento vertiginoso. No Espírito Santo, a “guerra comercial” notória tem sido entre as redes Raia Drogasil e as Drogarias Pacheco.

“Existe um modelo de crescimento das grandes empresas, que vão entrar em qualquer mercado com oferta de melhor preço de uma gama de produtos, desde perfumaria até os medicamentos mais específicos e caros. Todas têm assistência farmacêutica integral e têm o apelo comercial que é o mais grave: é vender por vender. No Estado eles têm uma facilidade de entrar e colocam farmácias onde comerciantes locais não têm condições de fazer, e o apelo é venda pela venda”, avalia o presidente do CRF-ES.

Pequenas em crise
Segundo Dutra, essa briga entre as grandes redes têm dizimados os comerciantes e redes locais, sobretudo as farmácias de bairro. Além de uma capacidade maior de compra e logística, as grandes são dotadas de saídas jurídicas e contábeis, fazendo com que parte dos impostos sejam recolhidos nas cidades de origem das matrizes e taxas sejam abatidas a partir da realização de projetos sociais, por exemplo.

“Elas entram com capacidade maior de compra e os impostos dela são recolhidos nas cidades de origem de onde vêm. Elas não trazem muito retorno para o Estado. Eles têm centro de distribuição próprio e compram direto da indústria – não precisam comprar de distribuidoras, como acontece com os locais – cuja compra tem que ser justificada pelo volume. Algumas compram lotes inteiros de produtos, o que joga o preço lá para baixo, resultando em descontos que as locais não têm condições de dar”, explicou Dutra.

E completou: “Quando a primeira farmácia de grande rede chegou no Estado, em um ano 10 farmácias vizinhas dela fecharam. É uma competição desleal”.

Antidepressivos entre os mais vendidos
De acordo com o CRF, atualmente são 1.872 farmácias no Espírito Santo, uma para cada 2,2 mil habitantes, muito acima do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de uma farmácia para cerca de 10 mil habitantes. A reportagem fez a contagem no bairro Jardim Camburi, o maior da cidade de Vitória, chegando ao número de 23 farmácias, uma para cada cerca de 2.173 habitantes.
Quanto mais disponíveis os remédios, mais facilmente a população tem se automedicado. Inclusive, a venda dos medicamentos antidepressivos tem disparado, tanto que eles já são considerados curva A de consumo – os mais vendidos, que geram maior lucratividade.

“Na minha experiência profissional, com mais de 20 anos de clínica tratando inúmeros casos, tipos e muitas pessoas deprimidas, pude perceber esse aumento. Sobretudo nos últimos cinco anos o número de pessoas com queixas de depressão ou de doenças relacionadas cresce consideravelmente. Posso dizer que de cada cinco, pacientes de dois a três vêm com queixas de depressão e seus sintomas”, disse a psicóloga Josiane Rezende.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde feita pelo IBGE, ainda no ano de 2013, o Estado tinha 5,5 % da população com diagnóstico de depressão (destas, 63,5% usavam medicamentos). “O tempo de duração da depressão é relativo e individual. Normalmente para uma depressão situacional pode levar um ano, em média, quando os fatores causadores são identificados e amenizados, ou deixem de existir. O investimento financeiro é variável, desde medicamentos fornecidos gratuitamente pelo governo, até R$ 200, R$ 300, ou até mais por mês”, explicou Rezende.

O Conselho Regional de Psicologia da 16ª Região (CRP-16), que compreende do Espírito Santo, informou por meio de nota que “o uso abusivo de medicamentos tem gerado preocupação para os profissionais da saúde, principalmente no que corresponde ao uso de psicotrópicos (aqueles remédios que popularmente chamamos de “tarja preta”; os de uso psiquiátrico, como calmantes, indutores de sono, dentro outros)”. O Conselho reconhece o consumo elevado.

Comodidade X Sobrevivência
Não são apenas as pequenas redes locais e farmácias de bairro que correm riscos com a expansão agressiva das grandes redes. As distribuidoras, que compram medicamento da indústria e revendem para as pequenas redes, também são ameaçadas nessa competição.

“O mercado do Espírito Santo é muito bom pelo incentivo fiscal que tem as grandes. Elas têm o centro de distribuição deles próprios e sabem que o ES tem o potencial grande no varejo e atacado e dos locais estratégicos. As pequenas, para as quais vendemos, estão sendo “engolidas”. Se o empresário da farmácia comprar errado e não fizer uma boa negociação, é engolido e não consegue sobreviver”, afirmou Wesley Tolentino, gerente de operação da distribuidora Panpharma.

O gerente o vice-presidente de Planejamento da Raia Drogasil, Eugênio De Zagottis, afirmou que outro ponto importante no avanço do varejo farmacêutico é que hoje, o consumidor vê a farmácia não somente para comprar medicamentos. “Conveniência e comodidade para os clientes são dois atrativos que oferecemos, por isso investimos nas melhores esquinas do País e priorizamos lojas com a disponibilidade de estacionamento. Nossa empresa é reconhecida pelo consumidor também como referência em produtos de higiene e beleza. Temos grandes parceiros e negociamos com eles para sempre oferecer a melhor gama de produtos e ofertas aos clientes”, frisou o vice-presidente.

Ele informou que atualmente a farmácia tem 28 lojas espalhadas pelo Espírito Santo (25 delas na Grande Vitória, sendo 11 na Capital) e emprega 470 funcionários.

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