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I want to break free

Eram duas da tarde do último sábado e a sala do cinema estava cheia. Sentei na F1, porque se tem uma coisa da qual tenho alguma dificuldade de abrir mão é a escolha da cadeira do corredor (fácil de sair rapidinho se for preciso). Ninguém me ensinou esse truque. Embora desde muito cedo tenha sempre optado pelas laterais. Shows, salas de aula, avião. Chego, localizo a saída e me ponho ao alcance dela.

Os trailers cismaram em demorar mais do que o normal. Começou o filme. Nenhuma afeição extra à banda me levou àquela escolha, pensei em me arrepender, pensei em implicar, mantive o celular ligado, olhei para ele um tanto de vezes. Até que a história desenrolada na tela fez ser possível sentir o doce da pipoca ficar mais doce, a água mais fresquinha, o pescoço mais leve no espaldar da poltrona. Cantei baixinho os refrões, me entreguei à delícia de uma sessão solitária e descompromissada no meio da tarde. Nossa, fazia tempo.

Era sobre liberdade e confiança (em si e no outro). Era sobre lidar com as consequências dos próprios atos. Era sobre celebrar a vida em toda a sua complexidade. Era sobre estar diante de um fim. Lindo o filme. Nem perto da lista dos memoráveis, ainda assim comovente. De minha tarde de sábado, posso dizer que foi das mais lindas. Posso dizer que dificilmente esquecerei dela.

Na sala ao lado, estava minha filha mais velha. Optou por outro filme. Com a naturalidade, a independência e a segurança herdadas do pai (que herança linda Henri, obrigada), propôs que cada uma de nós bancasse o seu desejo. “Veja o seu mami, eu vejo o meu”. Sua primeira sessão de cinema sozinha, minha paulistana raiz. Não quis a poltrona do corredor. “Pra mim, tanto faz”. Sinalizou ontem o fim da infância. Uma menina grande dona das suas próprias escolhas. Break free Lalá, desliga o celular, inventa teus próprios truques, entra sem pensar em sair. Vai. A vida é pipoca doce.

 

A imagem que ilustra este texto é de Zinaida Sibirtseva

Roberta D'Albuquerque
Roberta D'Albuquerque
Roberta D'Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu - Verdades inconfessàveis sobre a maternidade. Criou o portal A Verdade é Que... Existem mil maneiras de maternar. E escreve semanalmente sobre família e infância para vários jornais do Brasil.

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