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Futebol e politica: dentro e fora de campo

O envolvimento político no futebol sempre foi mais conhecido e refletido por meio do seu grande clássico: Barcelona x Real Madrid. Embora não fossem tão soberanos quanto atualmente, os dois clubes apareciam desde o começo do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei entre os principais e alternavam títulos com Athletic Bilbao, Valencia, entre outros.

Mais do que a rivalidade no campo, ambos também nutriam uma adversidade fora dos gramados. As diferenças entre os espanhóis da capital e os catalães com seu desejo separatista sempre influenciaram neste cenário e se intensificaram após o Franquismo (período da ditadura no país, leia mais abaixo), que começou logo após o fim da Guerra Civil Espanhola, em 1939.

A situação política entre Real e Barça é famosa não só na Espanha como no mundo, da mesma forma que o posicionamento do Athletic Bilbao, equipe do País Basco, região que, assim como a Catalunha, luta por sua independência. Porém, o que pode não ser tão conhecido é que a politização vai muito além dos três clubes ou de catalães e bascos com o resto do país ibérico.

A Espanha, assim como inúmeros outros Estados atualmente constituídos, é um território multinacional, ou seja, é formada por várias nações ou por diversos grupos étnicos regionais com identidade nacional diferenciada àquela do país ao qual pertencem. Nesse sentido, esse território é um dos principais locais do mundo em que há movimentos separatistas, com um forte clamor pela independência local em busca da constituição de um novo país.

Esse é o caso dos catalães, que, assim como outros grupos étnicos espanhóis (tais como os Bascos e os Navarros, outros povos da Espanha), possuem um forte sentimento separatista, que é alimentado pelo nacionalismo arraigado que esse grupo regional possui.

Os catalães, além de uma identidade própria, possuem o seu idioma específico: o Catalão, uma língua evoluída a partir do latim e que possui poucas semelhanças com o espanhol. Além disso, eles agregam-se na região da Catalunha, uma espécie de província autônoma da Espanha localizada ao sul da França e que possui até mesmo um parlamento próprio.

Após esse período, a Catalunha começou a se diferenciar economicamente do restante do território espanhol – assim como aconteceu com os Bascos –, tornando-se um dos primeiros locais da Europa a seguir o processo inglês de industrialização. Foi, assim, a região pioneira na Primeira e na Segunda Revoluções Industriais, urbanizando-se de forma intensa e constituindo cidades verdadeiramente desenvolvidas, com destaque para a capital Barcelona.

Atualmente, a região da Catalunha possui uma economia comparável à de Portugal, abrigando muitas grandes empresas e sendo um dos principais centros comerciais e turísticos da Espanha. Essa conjuntura, somada ao fato de a Espanha ter sido uma das principais afetadas pela crise recente da União Europeia, vem contribuindo ainda mais para o acirramento das relações entre o governo local e a administração nacional.

O atual presidente catalão, Artur Mas, chegou a afirmar que a região é a que mais contribui positivamente para o PIB da Espanha e, ao mesmo tempo, é a que menos recebe investimentos e infraestruturas do governo federal.

Em termos culturais, os catalães são muito diferentes do restante do país. O governo da Catalunha, inclusive, faz questão de manter essas diferenças, haja vista que o idioma oficial adotado é o catalão, que é ensinado nas escolas como a única língua nacional, tendo o espanhol apenas como um dialeto estrangeiro. Em 2010, um referendo na Catalunha estipulou a proibição sobre as Touradas, uma tradição espanhola não comungada pela população catalã.

Apesar de todas essas rusgas e diferenças, além das constantes pressões pela independência, é importante considerar que não há nenhum tipo de conflito armado nessa questão. Trata-se de um movimento político extremamente pacífico, em que eventuais ações de violência são duramente repudiadas pela população.

Por outro lado, os protestos e manifestações são comuns. Em 2012, mais de um milhão de pessoas foram às ruas pedindo a independência da Catalunha, o que pode ser considerado muito em função de a região contar com sete milhões de habitantes. No entanto, é importante salientar que não há um consenso entre os habitantes sobre essa questão: no final do ano de 2013 foi realizada uma pesquisa de opinião em que 52% dos catalães disseram sim à separação, enquanto os 48% restantes não acreditam que essa possibilidade seja favorável à região.

O País Basco – que, na verdade, não é um país – configura-se, atualmente, como uma das regiões autônomas da Espanha, ocupando uma área de 20 mil quilômetros quadrados, onde vivem mais de 3 milhões de habitantes. Os bascos ocupam a Península Ibérica há mais de 5 mil anos, resistindo a diversas invasões (inclusive a dos Romanos) e preservando os seus costumes ao longo do tempo, mesmo com a dominação posterior exercida pelos povos bárbaros. Atualmente, o idioma dessa nação é o mais antigo dentre os atualmente utilizados na Europa.

Além de ocupar parte do território espanhol, em sua porção norte, os bascos também habitam parte do sul da França, onde a convivência é mais pacífica, em razão do fato de apenas 10% daquilo que seria propriamente o país dos bascos se localizar em território francês.

Os bascos passaram a ser parte do território da Espanha a partir do século XV, tendo sua divisão com a França solucionada no século XVII. Apesar disso, os bascos conquistaram, ao longo do tempo, uma relativa autonomia, diferentemente, até então, das demais etnias localizadas no território espanhol.

No entanto, assim como ocorreu na Catalunha, o País Basco sofreu a dura repressão da ditadura de Francisco Franco, que restringiu os movimentos de independência e proibiu o uso do idioma basco. Assim como ocorreu com os catalães, esse período serviu para aflorar ainda mais o sentimento de recusa à dominação hispânica, fazendo surgir, inclusive, o grupo terrorista ETA (Euskadi Ta Askatasuna: “Pátria Basca e Liberdade”, em basco), que realizou atentados terroristas a partir da década de 1970.

Com o fim da ditadura, o País Basco conquistou, novamente, uma relativa autonomia, com Parlamento próprio e um sistema tributário independente. O ETA, até então apoiado pela população, costumava agir com manifestações violentas, realizadas por meio de assassinatos de autoridades militares e políticas. Apesar de serem favoráveis à independência, os bascos tornaram-se contrários a essas práticas do grupo terrorista que depôs suas armas em 2011, mas continua a existir.

O que se pode concluir com o caso dos bascos e dos catalães é que esses sentimentos separatistas em relação à Espanha tiveram duas matrizes diferentes: os primeiros possuem um cunho histórico e político muito fortes, enquanto os segundos seguem uma agenda cultural desde o movimento renascentista do século XIX. Diferenças à parte, os cientistas políticos consideram que a tendência é que eles não consigam suas independências durante os próximos anos, em face do forte apoio que o Estado Espanhol possui por parte da União Europeia e da ONU (Organização das Nações Unidas).

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