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Frota de carros no ES cresceu 14 vezes mais do que a população em 14 anos

cronicas dumas viagensNo ano de 2004 éramos cerca de 3,3 milhões de habitantes no Espírito Santo e em nossas ruas circulavam aproximadamente 800 mil veículos, média de um veículo para mais de quatro habitantes. Hoje, somos quatro milhões de habitantes e temos 1.907.000 veículos nas vias capixabas, praticamente um veículo para cada dois habitantes. Isso significa que nos últimos 14 anos, o crescimento da frota de automóveis nas ruas do Estado foi 13,62 vezes maior do que o da nossa população. E a tendência é que essa diferença aumente.

Levando em conta a estagnação da estrutura viária existente para a circulação de automóveis no Espírito Santo não é difícil concluir que num futuro não muito distante haverá um colapso no trânsito capixaba, caso nada seja feito. Para especialistas em mobilidade urbana o caminho para evitar esse colapso entre aumento da frota e a insuficiência das vias é o investimento no transporte público de qualidade a ponto de fazer com que as pessoas deixem os veículos particulares em casa para andar de ônibus.

“A cidade já tem uma estrutura viária pronta e a expansão da estrutura é onerosa e nem sempre possível. Mas o fato é que precisamos estar bem preparados para realizar um serviço de transporte público excelente. Não adianta querer melhorar a cidade para comportar mais veículos pois isso é um caminho sem fim. O transporte público deve ter prioridade sobre o transporte individual motorizado”, explica Gesiane Silveira, professora da disciplina de infraestrutura de transportes do departamento de Engenharia Civil, da Universidade Vila Velha.

Para ela, falta qualidade para o transporte coletivo local. “É preciso que tenha mais qualidade, o que envolve pontualidade, frequência, conforto, segurança. É dessa forma que vai conseguir atrair o usuário do transporte particular. É preciso um planejamento conjunto entre os municípios da Região Metropolitana para racionalizar o sistema, eliminando sobreposição de linhas, integrando as regiões de formas mais eficientes”, completa Silveira.

Qualidade baixa

Para o professor Duarte de Souza Rosa, do departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), nos últimos anos as poucas melhorias viárias realizadas na Grande Vitória não contemplaram o transporte coletivo. Aliado a isso, ele considera a qualidade do transporte público capixaba baixa ao passo que as tarifas são altas e não condizentes com o serviço prestado.

“As pessoas querem realizar suas atividades laborais, negócios, procurar saúde, em diferentes lugares e essa demanda de transporte não é atendida adequadamente pelo transporte público. Aliado a isso, temos a facilidade de aquisição do transporte privado e a maioria das pessoas opta por este. Inclusive houve um crescimento espantoso de vendas de motos”, frisa o professor.

“O que se viu nesses últimos anos foram poucas remodelações nas vias e que não incluíram o transporte coletivo de passageiros. Se não investir no sistema de transporte público passageiros, maior numero de ligações, melhoria da qualidade do veículo, não tem jeito. Não pode ser esse transporte carroçado, que as pessoas não conseguem ficar sentadas, quando fica escorrega das cadeiras, ou não tem estofamento… É lamentável ver essa situação e as tarifas ao mesmo tempo caríssimas. Não adianta dizer pras pessoas pra deixar o carro em casa e usar o coletivo se não melhorar a qualidade. Se não agir nesse sentido, o problema vai aumentar”, alerta Duarte Rosa.

Superlotação e horários bem definidos

Ter opções de linhas com horários bem definidos, melhorar frequência e solucionar a superlotação sobretudo nos horários de pico. Para a professora Roberta Lima Gomes, da UFES, que também concorda que a solução para o colapso do trânsito é investir no transporte coletivo, essas são medidas que farão a população priorizar o transporte público em relação ao particular.

“Certamente a solução é investir no transporte público. Precisamos ter opções de linhas que tenham horários bem definidos para que o cidadão programe sua jornada com uma margem pequena de erro. Precisamos ter solução para a superlotação nos horários de pico, melhorar a frequência dos ônibus. Ter serviços com apoio de TI ter apps que o cidadão entre o destino e dê opções de linha nesses horários, estimativa do tempo. São incentivos para que o cidadão opte pelo transporte público e ao invés do carro”, explica a professora.

Os especialistas concordam com a medida da linha verde adotada há um mês pela Prefeitura de Vitória e acreditam que, embora tenha demorado, já é um começo. “A linha verde é um começo, mas está um pouco isolada. Precisaria estar associada a essas outras medidas de melhoria do transporte público, como racionalização, eliminar sobreposição de linhas, melhorando frequência, conforto, segurança, o sistema como um todo. Não deve ser feito só em Vitória, mas na região metropolitana como um todo. Só assim vai se tornar eficiente. Por enquanto, ainda é mais confortável pessoa ter o próprio veículo, então opta por isso”.

Ciclovias com campanhas educativas

Se em Vitória existe falta de espaço para a expansão da infraestrutura de vias para automóveis, existe totais condições de expandir a malha cicloviária e capilarizá-la para dentro dos bairros, o que seria mais um reforço para desafogar o trânsito na Capital. Segundo os especialistas, essa é uma medida que incentivaria o uso das veículos não motorizados e não poluidores para o movimento pendular.

“Há iniciativas da prefeitura neste sentido, que é louvável. Então que não paremos, pois precisamos de uma melhor infraestrutura para transporte cicloviário, pois temos algo que funciona mais como lazer, como nas faixas exclusivas nos fins de semana. Precisamos melhores condições durante toda semana para transitar com segurança”, afirma Geisiane Silveira.

“Vitória não é extensa e o uso das bicicletas e ciclovias é uma solução. É preciso que sejam mais capilarizadas. É preciso ter mais ciclovias na cidade, não só nas vias principais, porque vemos na orla, em poucas avenidas, mas a partir do momento que tem que entrar em determinado bairro, fica intransitável. Falo isso, até porque levamos nossos filhos de bicicletas para escola e realmente é uma aventura, com grau de risco alto”, frisa a professora Roberta Lima.

E, após a potencialização das ciclovias, é preciso investimento em campanhas educativas. “É fundamental. Tudo é campanha educativa. Se oferecer a estrutura e não conscientizar as pessoas de como usar a efetividade fica a desejar. Educação é a única ferramenta que temos para mudar a cultura no Brasil. Temos que usá-la para valorizar uso de transportes alternativos e transporte público”, completa Roberta.

“Primeiro demanda, depois qualidade”

Todos os especialistas concordam que a linha verde, iniciativa da prefeitura de Vitória para priorizar o transporte coletivo nos horários de pico, é necessária. Mas que, aliado a isso, é preciso melhorar a qualidade dos ônibus e do serviço prestado. O secretário de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória, Tyago Hoffman, afirma que em primeiro lugar é preciso ter demanda, para depois melhorar a qualidade dos veículos e do serviço. Segundo ele, nos últimos anos o número de passageiros dos ônibus caiu pela metade.

“Se a frota aumentou 14 vezes neste período, o número de passageiros no coletivo caiu a metade. O transporte coletivo é público, mas é concessão. É operado por empresas e empresa precisa ter lucro. Eles gostariam de ter ônibus que atendessem cada vez melhor, mas não há demanda hoje. Esse possível cliente hoje está dentro do carro. Tem gente que tá falando que concorda com a faixa exclusiva, mas primeiro tem que melhorar a qualidade do coletivo. Mas primeiro temos que dar ao ônibus melhor condições para trabalhar de forma mais veloz”, afirma Hoffman.

E continua: “Em uma pesquisa feita pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), o que as pessoas consideram qualidade é confiabilidade de horário. Porque o carro eu pego a hora que eu quiser e vai me levar onde quiser e na hora que eu quiser. Em primeiro lugar tem que ter confiabilidade de horário e o que a linha verde faz é gerar confiabilidade de horário. Estamos entregando essa confiabilidade. Queremos tornar o transporte público viável, veloz e atrativo para que as pessoas possam trocar o transporte individual. Começa a ficar irracional ficar mais tempo dentro do carro e perder um tempo para a família, por exemplo. Esse é o movimento e é isso que temos adotado com a ideia da linha verde. Temos muitas outras coisas a serem melhoradas. Mas esse é o primeiro passo para atrair a demanda e dar ao transporte coletivo condições melhores que as dos outros veículos, que façam a população utilizá-lo ao invés do transporte particular”.

De acordo com o secretário as empresas que detêm a concessão do transporte público na Capital pediram a extensão da linha verde. No último teste, realizado no percurso do Hortomercado, na Praia do Suá, até o cruzamento da Avenida Norte Sul, em Jardim Camburi, a economia de tempo chegou a quase 50%, segundo Hoffman.

“Um percurso que era realizado em 41 minutos passou a ser feito em 26 minutos, um ganho espetacular. A troca do carro pelo ônibus é algo que vislumbramos a médio e longo prazo”, diz.

Para aumentar a eficiência, racionalizar o transporte, acabar com a sobreposição de linhas e baratear o custo do transporte, o secretário afirma que trabalha pela integração dos ônibus municipais com o sistema Transcol e com o uso de uma passagem única. “Da nossa parte temos total interesse. Só estamos aguardando o posicionamento do Estado”.

Quanto às ciclovias, ele afirma que a capilarização tem sido realizada, com a recém-inauguração da ciclovia da Avenida Adalberto Simão Nader. Os próximos bairros a serem contemplados com ciclofaixas serão Jardim Camburi, Mata da Praia, Jardim da Penha e Bento Ferreira. “Estamos aguardando a liberação de recursos para iniciar com a de Bento Ferreira”, afirmou.

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