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Ficará tudo por isso mesmo?

Dia desses, lendo os jornais do planeta, fiquei a pensar em um conceito emitido pelo jornalista norte-americano Ambrose Bierce, segundo quem “um acidente é uma ocorrência inevitável devido à ação de imutáveis leis naturais”. Que leis são essas?

         Vejam só: a reportagem mencionava que, quando da realização das obras necessárias à realização dos Jogos Olímpicos na China, em 2008, morreram seis trabalhadores em decorrência de acidentes.

         Dois anos depois, aconteceu a Copa do Mundo na África do Sul – cujas obras cobraram à humanidade a vida de dois trabalhadores. Naquele mesmo ano aconteceram as Olimpíadas de Inverno em Vancouver, no Canadá – que ceifou uma vida humana, por conta de lamentável acidente de trabalho.

         Chegamos a 2012, quando se realizaram os Jogos Olímpicos em Londres. Ao longo das diversas obras realizadas, entre reformas e construções, houve um acidente de trabalho com vítima fatal.

         Nos idos de 2014, o Brasil sediou uma Copa do Mundo. Foi necessária a construção e reforma de diversos estádios – e igualmente pagou-se um tributo em termos de vidas humanas, precisamente dez delas.

         Enquanto isso, o Qatar foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2022 – e já começou seus preparativos. Lá, como em todos os demais lugares, tem havido acidentes de trabalho – que já vitimaram 1.993 trabalhadores. Por extenso: um mil, novecentos e noventa e três! Prevê-se que, ao final dos preparativos, quatro mil semelhantes nossos tenham perdido a vida em acidentes de trabalho por conta do torneio de futebol.

         Para piorar as coisas, uma entidade belga denunciou que todas estas mortes correspondem a apenas 60% do total, pois que abrangeriam somente trabalhadores oriundos do Nepal e da Índia.

         Como explicar-se um número desses? Segundo consta, os trabalhadores enfrentam jornadas de sete dias por semana, sob um calor que alcança 50ºC. Enfraquecidos, sem alimentação correta e desprovidos de condições mínimas de higiene, vão morrendo um em seguida ao outro.

         Engana-se quem pensa ser este problema exclusivo do Qatar: neste preciso momento temos, neste planeta, nada menos que 21 milhões de escravos – aliás, nunca ao longo da história da humanidade os tivemos em quantidade tão grande!

         Na África, uma investigação identificou 157 empresas ocidentais envolvidas com extração ilegal de minérios, responsável por uma guerra que já ceifou cinco milhões de vidas – por conta disso, calculou-se que um telefone celular produzido com tal matéria-prima custa a vida de duas crianças. Imagine agora o custo de um computador, ou de uma turbina de avião, cujos componentes tenham tão sinistra origem.

         No Iraque, por conta do pouco divulgado uso de munição de urânio empobrecido pelas potências ocidentais, em uma guerra realizada em torno do petróleo, recente investigação constatou uma taxa de deformações congênitas que supera até as verificadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em seguida aos bombardeios nucleares.

         E será assim, de exemplo em exemplo, alguns deles varridos para debaixo de algum tapete próximo de sua casa, que chegaremos à óbvia constatação de que o horror deste mundo não é econômico ou mesmo político – é simplesmente moral. É de falta de sentimentos. É de deformação espiritual.

         Não faz tanto tempo assim, o saudoso físico e matemático inglês Isaac Newton, ao formular sua terceira lei, decretou que “a toda ação corresponde uma reação oposta e de igual intensidade”.

         Agora, levante-se e olhe pela janela. Contemple o mundo perplexo e atormentado, tão  rico em medos e traumas, no qual vivemos. Pergunte-se, então, com Isaac Newton, sob a sombra de tanto sofrimento e ódio, causados por tanta ganância, se “tudo está ficando por isso mesmo”.

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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