Dólar Em baixa
5,204
19 de abril de 2024
sexta-feira, 19 de abril de 2024

Vitória
24ºC

Dólar Em baixa
5,204

Fazer de tudo sem nada realizar: mais de 90% das pessoas procrastinam

_DSC5301Não é novidade que o brasileiro costuma deixar as coisas para a última hora. A procrastinação (ato de adiar o que poderia ser prontamente realizado), popular “depois eu faço”, entretanto, é um sintoma do mundo moderno que pode atingir esporadicamente até 95% da população em geral, de acordo com o pesquisador T.J. Potts, e atingir cronicamente entre 15% e 20% de adultos e entre 33% e 50% dos estudantes. Ou seja, eu e você, que me lê, estamos passíveis de procrastinar algo que não estejamos dispostos a fazer, seja por qual razão for.

A psicóloga Naira Caroline Teixeira, especialista em Terapia Junguiana e de Sandplay, explica que a procrastinação está associada a um nível de stress próprio do mundo contemporâneo e ao medo do fracasso. “Com tantas cobranças, com tanta informação que estamos vivendo, existe uma tendência de procrastinar. Mas a procrastinação pode também estar associada ao medo de falhar, de que as ações possam resultar num fracasso. Pessoas que têm elevada autocrítica podem preferir inconscientemente ‘estar bem’ consigo, evitando o enfrentamento de situações”, afirma ela.

Especialista em Terapia Comportamental, o psicólogo clínico Gleison Machado explica que a procrastinação dificilmente acontece com alguma atividade que gostamos de fazer. Mas quando precisamos lidar com tarefas difíceis e que demandam um esforço pessoal grande, uso de habilidades complexas ou tempo excessivo, costumamos deixar sua realização para depois, ou melhor, para a última hora.

“Vamos pensar naquele estudante que está trabalhando no TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Hoje, o número de estímulos presentes no ambiente e que produzem gratificações imediatas cresceram exponencialmente, principalmente com o advento da internet. Por exemplo: enquanto tento redigir meu trabalho, posso postar fotos no Instagram, acompanhar minha publicação no Facebook, enviar mensagens no Whatsapp, assistir minhas séries favoritas na Netflix. Tudo isso a um custo muito baixo de resposta e com consequências prazerosas imediatas quando comparadas às recompensas a longo prazo que serão produzidas ao finalizar o TCC”, explica o especialista.

Problema crônico
De acordo com a especialista em avaliação psicológica e neuropsicologia Fabiana Loreto, a procrastinação pode se tornar crônica quando impede que a pessoa tenha um funcionamento normal no dia a dia, quando as tarefas procrastinadas têm alto grau de relevância e cuja postergação se torna prejudicial ao indivíduo.

“Quando crônica, ela é recorrente e de difícil eliminação, por vezes paralisando a vida do sujeito. As procrastinação pode acarretar malefícios que vão ser acumulados com o passar do tempo, como: incapacidade de alcançar objetivos pessoais, de desenvolver capacidades, pode gerar intenso sentimento de frustração, culpa, perda da produtividade, dentre outros”, analisa a psicóloga.

Dentre outros fatores citados pelos psicólogos que são encontrados com maior frequência em pessoas que procrastinam estão dificuldades em lidar com frustrações; emissão constante de comportamentos de fuga ou esquiva de situações que sinalizam algum tipo de punição; pouco repertório para lidar com a tarefa em questão; insatisfação com as atividades desempenhadas; desânimo; ansiedade elevada; falta de energia; baixa autoestima/falta de confiança na capacidade; falta de planejamento; tristeza excessiva (depressão); ausência de foco (déficit de atenção); culpas por não conseguir realizar as tarefas e verbalizações como “eu não sei que rumo tomar na vida” e “parece que a minha vida não anda”.

IMG_6645“Uma pessoa que procrastina com muita frequência poderá arcar com consequências emocionais, financeiras, acadêmicas, etc. Por exemplo, a pessoa que posterga a consulta médica ou exames clínicos, poderá descobrir tardiamente uma doença; aquele que deixa para a última hora a entrega da declaração de imposto de rendas, poderá pagar multas; o estudante que não entrega seu TCC, poderá perder o período para se formar e perder uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho”, explica o psicólogo Gleison Machado.

E completa: “Já quando a pessoa obtém muito êxito em procrastinar, a tendência é que ocorra o fortalecimento desse comportamento e sua repetição em vários contextos. Isso acontece quando a pessoa costuma deixar sempre para a última hora e aprende que ‘no final sempre dá certo'”.

esta_DSC5284Eles reconhecem o problema
“Eu sempre procrastinei com muita coisa na minha vida, principalmente com relação aos estudos. Sempre deixava pra última hora e me dei mal por causa disso. Hoje, com relação e o problema está lá, sem ser corrigido. As consequências são sempre ruins”, reconhece Gabriel Rosa, funcionário público.

Mas ele não está sozinho. O estudante Uriel Nascimento destaca o abalo emocional. “Muitas vezes não é nem pela questão da escassez de tempo. É porque esse novo padrão da sociedade e de funcionamento das coisas faz com que se torne cada vez mais difícil manter a concentração, manter o foco por um período mais longo de tempo. A gente não está preparado emocionalmente para receber a quantidade de informação que chega”.

Mariana XavierConforme os especialista destacam, a procrastinação leva a desorganização e a autônoma Mariana Xavier sofre com isso. “O resultado é a má administração do meu tempo e acabo fazendo tudo corrido! Gera muito stress!”, destaca. As mídias sociais podem ser um complicador. Segundo o doutorando em Antropologia Social, na Unicamp, Alex Nakaóka, consomem tanta energia dos usuários que contribuem para a procrastinação no que é, realmente, fundamental.

“Acredito que no trabalho a procrastinação ocorra de forma mais frequente, ou, talvez, as consequências sejam mais claras e causem problemas “efetivos”. Outro fator que ajuda nessa procrastinação é propiciado pela internet, especificamente o Facebook e Whatsapp, mas também os e-mails e sites informativos. Despendo uma energia considerável nessas redes, labirintos que me fazem perder um tempo considerável. Parece existir uma necessidade de informação/atualização em tempo real, que dificulta a concentração nas tarefas cotidianas”.

deixar para depois não é preguiça de fazer. Mas, muitas vezes as duas coisas são confundidas pois ambas deixam de lado o que se é necessário fazer. “As pessoas confundem com preguiça, mas não é. É como ter dificuldade de identificar quais são as prioridades no dia a dia. Eu me pego estudando uma música, ao invés de ir ao supermercado, por exemplo. Uma das consequências principais da procrastinação é a dificuldade de alcançar objetivos, por falta de foco e organização”, revela a Viviane Figueiredo.

Como tratar o problema
Os profissionais deixam claro que há diversas formas que as pessoas podem encontrar para melhorar a gestão das atividades e obterem melhor rendimento, como cursos, consultorias, leitura de bons livros, psicoterapia, entre outros. O primeiro passo é tomar consciência do problema.

Naira Teixeira frisa que é necessário lembrar que toda a mudança de comportamento exige esforço próprio. “Toda a mudança de perspectiva de enfrentamento das coisas vai exigir da gente um sacrifício, vai exigir da gente um enfrentamento, uma força maior. Se a gente quer crescer, a gente tem que abrir mão de uma desresponsabilização dos nossos compromissos. Se a gente precisa mudar as nossas ações, a gente vai ter que sair da nossa zona de conforto o que às vezes não é tão confortável assim”, esclarece.

Quanto à psicoterapia, o psicólogo Gleison Machado explica que a Análise Funcional vai ajudar a compreender como diferentes contextos (familiar, cultural, fisiológico, história pessoal e outros) interagem e contribuem na produção do comportamento procrastinador.

“Quando eu adio determinada tarefa, eu deixo de entrar em contato com variáveis aversivas naquele momento. Assim, os procedimentos terapêuticos que serão adotados pelo psicólogo estão atrelados a Análise Funcional que for realizada. Por meio da psicoterapia, a pessoa também poderá melhorar o seu autoconhecimento, que é o processo em que a pessoa consegue discriminar seus comportamentos e identificar as variáveis que os controlam, o que muitas pessoas que procrastinam não possuem clareza. Posteriormente, vários caminhos podem ser implementados, sendo um destes, o desenvolvimento de autocontrole com uma melhor organização das atividades a serem executadas”, afirma o psicólogo.

Fabiana Loreto explica que a Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), que trabalha na modificação de crenças para produzir mudanças de comportamento e mesmo o treinamento para desenvolvimento profissional (Coaching) podem ser eficientes para tratar o problema da procrastinação.

“Na TCC, os estudos buscam aplicar os conceitos da abordagem terapêutica para tratar a procrastinação enfatizando a importância de conscientizar-se da mesma, substituindo-a por engajamento em tarefas e por meio de modificações de crenças procrastinatórias irracionais. Ela auxilia ainda a tolerar o desconforto de curto prazo para obter ganhos a longo prazo. O Coaching também é interessante visto que a procrastinação interfere muito também na vida acadêmica como na profissional”, avalia.

 

SETE PASSOS CONTRA PROCRASTINAÇÃO:

1) Divida sua tarefa de grande porte em pequenos objetivos – Por exemplo, uma monografia é composta de várias partes. Ao olharmos o todo, costumamos ficar assustados, por isso, é importante sua divisão em micro etapas. Por exemplo, primeiramente ler vários artigos para fazer a revisão literária de sua monografia.

2) Tire tudo da sua frente que sinalize o objetivo final – Caso esteja estudando para um concurso público e haja um material enorme para ser estudado, separe para deixar em sua mesa de trabalho apenas aquele que você vai ler agora. Esconda (literalmente) de você o material a ser estudado.

3) Tire tudo ou esteja em um ambiente com poucos estímulo concorrentes ao ato de estudar – celular, televisão, barulho. Há inclusive alguns programas que bloqueiam diversas páginas da web, permitindo que você restrinja os seus estudos.

4) Deixe à sua vista o material que você “já venceu”, ou seja, deixe marcas claras daquilo que você já cumpriu – Costuma ser uma injeção de ânimo muito grande saber que a montanha já está na metade e que agora faltam alguns poucos metros para chegar ao pico.

5) Intercale a essas pequenas etapas algumas atividades rápidas que você costuma curtir. Um telefonema para a namorada, uma espiada rápida na internet, uma visitinha à geladeira… mas tudo isso, só depois que a micro etapa estiver cumprida e que você tenha cumprido seu pequeno objetivo.

6) Quando encontrar alguma dificuldade, pare momentaneamente e faça algo completamente diferente e bem rápido. Retome depois a atividade de algum ponto anterior (por exemplo, releia as duas últimas páginas que já havia lido para ultrapassar um trecho que está complicado em um texto).

7) Antes de terminar e entregar a tarefa, reveja-a por completo. Se sentir necessidade, complemente-a com o que sentir que está fazendo falta.

Fonte: Roberto Alves Banaco, Professor e Doutor em Psicologia

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas