Por Milena Mangabeira
Paulista radicada no Espírito Santo há 22 anos, a fotógrafa Silvia Mantovani, 40, foi convidada a participar da Primeira Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Salerno, na Itália. O evento acontece de 11 a 25 de outubro, na cidade de Salerno. O projeto de Mantovani é uma colagem que retrata, entre fotografias e textos, mulheres que foram vítimas de violência que resultaram em morte.
O tema central da Bienal é “Violência sobre as mulheres – A arte, em todas as suas formas, torna-se o meio para clamar contra todas as formas de violência contra as mulheres”. Diante disso, a fotógrafa, após convite da organização do evento, definiu que, por o Espírito Santo [infelizmente] ser campeão em casos de violência contra a mulher, o dado deveria ser levado a todas as pessoas, em nível mundial.
“O curador da Bienal me convidou, por trabalhar com fotografia de moda e com mulheres. Me foi proposto como desafio retratar um ponto triste que é a violência contra a mulher. Como moro há anos no ES e vivemos constantemente com esse cenário, resolvi trazer casos que aconteceram no Estado e levar isso para conhecimento internacional”, contou.
Sobre o projeto fotográfico, Silvia vai levar à Itália 30 casos capixabas, onde houve vítimas fatais, apresentando uma foto da mulher, idade, cidade de nascimento, onde e como o crime aconteceu. Sem querer revelar todo o contexto [para deixar a expectativa até o dia do lançamento], a fotógrafa revelou que um dos casos retratados será o de Araceli Cabrera Sánchez Crespo.
O “Caso Araceli” ficou conhecido nacionalmente devido a brutalidade a qual foi submetida. A menina foi violentada até a morte no dia 18 de maio de 1973. Depois do crime de abuso sexual, a abandonaram morta em um terreno baldio, jogando ácido sobre o corpo para que não fosse reconhecido. Hoje a data é lembrada como Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
“A Araceli não poderia deixar de entrar nesse projeto. Estamos falando de violência contra a mulher, e no caso dela, também era uma criança. O crime nos choca não só pela brutalidade, mas também pela impunidade. É importante lembrarmos esse episódio para que não se repita”, apontou.
Desde o convite até a conclusão do trabalho, a fotógrafa teve cerca de três meses. Ela revelou que a pesquisa para o projeto, apesar de curta em seu prazo, foi longa e dolorosa devido aos fatos. “Não foi fácil revirar processos e analisar como cada crime aconteceu. Nos autos existem detalhes que eu preferiria nem saber. A pesquisa me deixou bastante abalada, muito revoltada e chorei bastante, além do descaso com alguns crimes, onde o processo nem chegou a ser concluído”, desabafou.
ES “campeão” em feminicídio
O Espírito Santo lidera o ranking de violência contra a mulher. Foi o que constatou uma pesquisa de 2013 feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os dados registram 16,9 mil mortes de mulheres, entre os anos de 2009 e 2011. A taxa nacional de mortes a cada 100 mil é de 5,82%. No ES, a taxa é de 11,24%.