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Faltam especialistas para autismo nos planos de saúde

apaeQuem tem filho autista e depende de plano de saúde para a realização dos tratamentos, reclama. A advogada Carla Lopes (foto) é mãe de João Carlos, 5. Apesar de hoje recorrer à Apae e ao tratamento particular para o filho, já tentou atendimento com fonoaudiólogo e terapia ocupacional por plano de saúde, mas não ficou satisfeita.

“A quantidade de consultas e por serem sessões de apenas 20 minutos não foi satisfatório. Em 20 minutos não consegue nem estabelecer contato com a criança. Temos situação de profissionais não preparados, não especializados para atender criança com TEA, para saber o ponto de partida. Existe dificuldade de fono especializado e até neurologistas. Psicólogo do plano de saúde muitas vezes não entende, pois trata pessoas que têm problemas do dia a dia. Além disso, as terapias não podem ser poucas vezes por mês e elas têm que estar em sintonia, pois estamos querendo organizar o conjunto do indivíduo: fala, interação, modo de viver”, relatou a advogada.

Hoje, João Carlos faz tratamentos com fonoaudiólogo, terapia ocupacional, terapia comportamental, ecoterapia, interação sensorial, educação física adaptada, AEE (Aula de Educação Especializada) e ainda tratamento ortomolecular com biomédico. Além dos tratamentos gratuitos na Apae, o restante mais os remédios somam um investimento de cerca de R$ 2,5 todo mês.

Sabrina Teabraco é mãe de João Rubens, 8, e fez parte dos tratamentos pelo Plano de Saúde dos Correios, onde o pai dele trabalha. Dos três aos seis anos de idade, João realizou o tratamento em clínicas indicadas pelo plano, mas a falta de especialização dos profissionais fez o filho inclusive regredir em alguns sentidos. Hoje, ele só trata com especialistas e a evolução é notória.

“Ele dez o tratamento por três anos, porém os profissionais não eram especializados em autismo. Esse tratamento fez até mal e hoje, com menos tratamentos feitos com especialistas, os avanços têm sido significativos”, afirma Sabrina, que paga por cada consulta.

Pior do que não oferecer profissionais especialistas, os planos de saúde não tratam com o respeito que a causa necessita. Sabrina relata que enfrentou preconceitos tendo a realização de alguns procedimentos negados por conta do transtorno do filho. “Tem um exame que o médico pediu, CGH-Array, que o plano até hoje não liberou. João tem uma hérnia e até hoje não conseguiu fazer cirurgia, porque os médicos alegam o problema da medicação controlada, mas o neuro disse que não tem risco. Dentista não atende para fazer limpeza e alega que é preciso que médico libere um sedativo. Mas o neuro fala que não tem necessidade, é questão de paciência ao lidar. Muitas coisas do plano de saúde os médicos credenciados não querem fazer, porque dá mais trabalho. É preconceito”, alega Sabrina.

apae cariacicaMuita demanda e pouco investimento
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 1% da população mundial – ou uma em cada 68 crianças no mundo – é portadora de algum transtorno do espectro do autismo (TEA) e a ocorrência tem aumentado, sendo a maioria dos afetados crianças. Estima-se que no Brasil dois milhões de pessoas convivam com o TEA e a falta de atendimento especializado é uma realidade no serviço público de saúde. Até mesmo no atendimento privado, existe essa falta, que acarreta no retardo de tratamento.

A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) é quem recebe as demandas da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) no que diz respeito ao tratamento do autismo. A Apae de Cariacica atende atualmente 146 crianças acometidas pelo TEA, com musicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, ecoterapia, fonoaudiologia, psicologia comportamental, neuropediatria. De acordo com o presidente Arildo Rocha, é grande a fila de espera em todas as unidades da Apae.

“A lista de espera aumenta todo o dia, mas temos em média dois casos diários. O telefone não para e estamos no limite. Não se consegue fazer atendimento em grupo e às vezes são três profissionais em um único atendimento. Em questão de autismo, o tratamento é individual e é por tempo ilimitado. A torneirinha é no conta-gotas”, explica.
De acordo com ele, um dos motivos da crescente demanda é que o diagnóstico hoje é feito cada vez mais cedo. Além disso, a ampliação do atendimento fica limitado ao não reajuste dos valores recebidos pelo SUS e a não inclusão das particularidades para atendimento do autismo no sistema. “Nosso custo é altíssimo. Temos um contrato de prestação de serviços com a Sedu, por pessoa. O atendimento é diferenciado: o fonoaudiólogo que atende o Down não é o mesmo que atende o autista”, completa.

Triagem
Arildo afirma que a Apae de Cariacica realiza a triagem neonatal (testes do pezinho, do olhinho e da orelhinha) para identificar deficiência precocemente. Em 2016, dos mais de 2,1 mil realizados, 167 apresentaram algum tipo de deficiência, incluindo o autismo. Destes casos, 43 foram relacionados à confirmação de sífilis, 15 ao uso de drogas na gravidez e o restante à prematuridade.

Os atendimentos especializados, que variam entre as Apae, são os mesmos e, de acordo com funcionários, a ampliação do atendimento depende da liberação de recursos financeiros do Governo e Estado.

Tratamento limitado nos planos de saúde
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que o rol de procedimentos e eventos em saúde, editado pela Agência, garante aos beneficiários de planos de saúde em tratamento para o autismo cobertura obrigatória de consultas e sessões com terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo e psiquiatra, além de atendimento em hospital-dia psiquiátrico.

“O rol atual – estabelecido pela Resolução Normativa (RN) nº 387/2015 – determina um número mínimo de sessões que devem ser obrigatoriamente cobertas pelos planos, sendo 96 sessões por ano com fonoaudiólogo e 40 sessões por ano com psicólogo ou terapeuta ocupacional. Já as consultas com médico psiquiatra, bem como o atendimento em hospital-dia, são ilimitados”, informa a agência por meio de nota. Os planos Bradesco Saúde, SulAmérica Saúde e Unimed esclareceram

que cumprem as determinações do rol de procedimentos e eventos em saúde da ANS. “Os primeiros sinais do autismo geralmente são observados pelo pediatra, que acompanha o desenvolvimento motor e cognitivo da criança. Após tal identificação, os pais são orientados a procurar um médico da área psiquiátrica ou neurológica para fazerem o diagnóstico. A partir daí estes profissionais prescrevem tratamentos que abrangem especialistas que trabalham em conjunto e com avaliações periódicas da criança”, informa a Unimed, por meio de nota.

Os planos de saúde Samp, Golden Cross e São Bernardo Saúde foram procurados, mas não se manifestaram até o fechamento da edição impressa. Contudo, quando a reportagem já havia sido publicada a assessoria do São Bernardo informou:  “O São Bernardo Saúde informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que dispõe de todas as especialidades médicas, exames, procedimentos e tratamentos com cobertura obrigatória de acordo com o Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e suas respectivas diretrizes, incluindo consulta/sessão com neuropediatra, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, entre outros”.

A ANS informa que o beneficiário que tiver qualquer dificuldade junto à operadora de plano de saúde deve registrar reclamação nos seguintes canais na agência: Disque ANS 0800 701 9656 e Central de Atendimento ao Consumidor no portal da Agência (www.ans.gov.br). Atualizado em 31/07/2017

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Comentários
  1. Faltou colocarem na lista o plano Hapvida aqui no Pará. Meu filho demorou pra ser diagnósticado por falta de profissionais capacitados . Hoje ele frequenta a Apae e o Capsi.

  2. O tratamento prestado pela Unimed é vergonhoso. Poucos profissionais, não especializados em sua maioria, muita dificuldade em conseguir horário, sendo quase impossível manter a periodicidade recomendada pelo médico.

  3. Preciso levar meu filho p fazer um tratamento com uma Médica Ortomolecular especializada em Autismo. Trata-se de um olhar novo, que une as medicinas tradicionalistas e a ortomolecular, mas cuja aplicacão já está em andamento em vários países, mas q não fazem parte de planos no Brasil, infelizmente. Como consigo acesso a tal tratamento? Através da ANS? Ou DA JUSTIÇA?

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