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Ex-secretário fala de seus 10 anos à frente da Segurança no ES e de nova empreitada

Foto: Dayana Souza
Foto: Dayana Souza

Ele é o secretário mais longevo à frente da Segurança Pública do Espírito Santo. Aos 48 anos, 10 deles dedicados à pasta, André Garcia se prepara para alçar novos voos na vida pública, desta vez como pré-candidato a deputado estadual pelo MDB, mesmo partido do governador Paulo Hartung. Aliás, a filiação ao partido só se deu por conta de um pedido pessoal de Hartung. “Bati o martelo a pedido do governador. Foi um pedido pessoal dele, que me ligou e me pediu para ir para o MDB”, afirma Garcia. Mas admite que se identifica mais com o conteúdo programático do PSDB.

Em entrevista a ESHOJE o ex-secretário, que é procurador do Estado, professor, e foi militar da Força Aérea Brasileira, destacou que se orgulha da diminuição da taxa de homicídios no Espírito Santo durante sua gestão e que não teria feito nada de diferente durante a crise da segurança pública que abalou o Estado no mês de fevereiro de 2017 – a pior da história no Estado – que culminou na morte violenta de 215 pessoas.

“Fizemos o que deveria ser feito. Liderar não é fazer o mais fácil, pois poderíamos ter endividado o Estado e onerado toda a população. Liderar é fazer o certo, mostrar o caminho correto, e, mesmo com as incompreensões e represálias, temos que manter uma postura firme”, analisou Garcia.

Ele ainda falou da sua relação com os militares capixabas pós-crise, da intenção de facilitar o trabalho das polícias no Legislativo capixaba, de suas aspirações como deputado e da nomeação de Nylton Rodrigues como seu sucessor à frente da Segurança Pública no Estado.

ESHOJE: Como era e como está a segurança pública capixaba naquela época e hoje?
André Garcia: Ainda passei um período fora da pasta, na Secretaria de Justiça, que tem relação próxima com a Segurança Pública, e na de Ações Estratégicas, para criar o programa de segurança, criado por mim e minha equipe. O grande legado foi o da continuidade e do planejamento. Temos muito claramente estabelecido o que queremos em termos de equipamentos para as polícias, o conceito combinado de prevenção com repressão qualificada, temos trabalhado essas duas dimensões fortemente. Não se pode pensar em segurança somente sob o ponto de vista de mais enfrentamento, mais efetivo, mais viatura e mais armas. Isso é importante, mas se não tiver combinada a estratégia de prevenção e o foco no territórios mais vulneráveis, característica do Ocupação Social – jovens em regiões mais vulneráveis – não conseguiremos resolver a queda de indicadores no longo prazo, a taxa de diminuição dos indicadores de violência. Em 2009, chegamos à taxa de 58 homicídios por 100 mil, hoje está em torno de 29, 30 homicídios por 100 mil habitantes, uma queda brusca nessa taxa. E associado à questão prisional que tem seus reflexos fora do sistema prisional. Se controlamos bem, evitamos a influência do sistema criminoso extra muros. Temos aí muitos desafios, mas temos contratado muita coisa boa pela frente. Investimentos captados junto ao BNDES e BID para transformação da Polícia. Previsão de construção de um complexo de Polícia Técnico Científica, investimentos em equipamentos para deixar nossa polícia no século 21 definitivamente, reforço de viaturas, chegando armamento importado, fuzis, pistolas importadas, toda uma lógica estabelecida com base no planejamento de longo prazo, pois corremos a tentação de ceder a curto prazo, apagando incêndios diariamente. Mas o grande aprendizado desse projeto é a visão de longo prazo na Segurança Pública e que está dando certo a política de continuidade.

ESHOJE: Quais são as mudanças que você destaca nesses 10 anos? Quais são os feitos dos quais você se orgulha e pelo que você quer ser lembrado na SESP?
André Garcia: O feito relacionado à queda da taxa de homicídios, foco na prisão de homicidas contumazes, monitoramento de operações de cumprimento de mandados de homicidas e traficantes, feito na reunião de monitoramento a cada 30 dias. Nessas reuniões analisamos todo o cenário criminal do Estado. Se fosse para resumir seria isso. O resultado da redução dos homicídios.

ESHOJE: Você fez história à frente da Segurança Público do Estado, tanto por ser o Secretário mais longevo, quando por ser o Secretário de que enfrentou a maior crise da segurança pública capixaba. Como foi a experiência de ser o principal responsável por controlar aquela crise?
André Garcia: Aquilo foi um processo de aprendizado. Toda a crise gera uma ruptura que se não souber controlar, gera um descontrole grande, o que aconteceu no começo. Mas saber foi preciso atravessar a crise e construir um mecanismo que faça com o que gerou a crise não se repita. No começo gerou incompreensão que, em plena crise econômica, diante de incapacidade de benefício e reajuste salarial, mostrar a todos que o caminho correto é cumprir a constituição e seguir o que estava na lei e corporação militar. Foram confrontados princípios basilares, como hierarquia e disciplina. O liderar não é fazer o mais fácil, pois poderíamos ter endividado o Estado e onerado toda a população. Liderar é fazer o certo, mostrar o caminho correto, e, mesmo com as incompreensões e represálias, temos que manter uma postura firme. Pois temos convicção de que estávamos defendendo interesses da sociedade. Estamos trabalhando para que a PM seja uma instituição melhor, investindo mais na saúde dos policias e seus familiares, é importante pontuar. Mas por outro lado, é preciso manter autoridade e compromisso da missão, que é servir a sociedade capixaba. Desse compromisso não podemos nos desviar.

ESHOJE: O que teria feito de diferente?
André Garcia:Acredito que não teria feito nada diferente. Isso de forma recorrente volta pra mim como reflexão sobre o que poderíamos ter feito ou não. Mas fomos rápidos no acionamento das forças federais. O tempo todo defendendo o posicionamento legal em defesa da sociedade. Fizemos processo de reestruturação da PM, que está em curso, defendemos o que devia ser defendido, fizemos o que deveria ser feito, que é disciplinar. Se não tivéssemos paralisado o movimento aqui, teríamos reflexo no País inteiro, que estava de olho no controle do movimento, especialmente da concessão econômica, sob pena se espalhar pelo País.

ESHOJE: Como acha que ficou a sua relação com os policiais militares capixabas?
André Garcia: Costumo dizer que sempre tive excelente relação com os militares. Sou militar, filho de ex-militar, estudei no colégio militar, conheço bem como são as coisas. O que ficou evidente é que havia muita manipulação política desde o início. Pessoa que insuflaram o movimento estão agora como pré-candidatos, se colocando como heróis, e vão se candidatar. Eles colocaram a PM em situação difícil. Isso tem sido explorado, porque barateia o debate, quando estabelece que “somos os bons e os outros ruins”. Infelizmente algumas pessoas embarcaram nesse discurso raivoso, sem compreender o papel do comandante. Embora lamente isso, não vou mudar minhas convicções por indivíduos que não tem compromisso com a sociedade capixaba e sim com projetos pessoais.

ESHOJE: Agora, em sua empreitada política: como acha que está a sua cotação política entre os militares?
André Garcia: Acho que nunca contei muito com esse eleitorado, embora tenha muitos amigos dentro das corporações, dentro da PM. Quando se passa muito tempo no governo, isso gera muitos pontos de atrito e tensão nas categorias. É natural. Não trabalho com essa hipótese de ter que contar com esse apoio macro, pois sei que não terei. Mas aqueles que depois de um ano de tudo que aconteceu pararam para refletir, podem entender qual foi o meu papel desempenhado.

ESHOJE: Por que se filiou ao MDB?
André Garcia: Bati o martelo a pedido do governador. Foi um pedido pessoal dele, que me ligou e me pediu para ir ao MDB. Tinha dito que ia ao PSDB por razões programáticas, pois penso em programas. Infelizmente essa escolha partidária é difícil para qualquer um, porque muitos partidos não tem identidade programática definida e em todos os partidos existem pessoas boas e ruins. É difícil. Mas no caso do MDB, pelo tempo que tenho de relação de trabalho e pessoal com o governador, atendi com muita alegria ao pedido dele.

ESHOJE: E por que candidato a deputado estadual?
André Garcia: Como deputado estadual quero contribuir no debate local. A decisão veio após muita reflexão. É preciso levar para a Assembleia pessoas que possam contribuir no debate, pessoas que possam fazer o trabalho da situação ou oposição com qualidade e que não se limite a uma visão carreirista, mas exercer o mandato na defesa de interesses da sociedade e com as convicções e princípios que temos.

ESHOJE: Quais serão suas bandeiras?
André Garcia: Apesar de relação evidente com a Segurança Pública, minha atuação terá reflexões da minha formação como procurador e professor universitário, questões dos serviços públicos e políticas públicas como um todo. A Segurança Pública tem um modelo de governança que pode ser atribuído a qualquer política pública. Buscaremos facilitar o trabalho das polícias no que tiver dentro das questões legislativas.

ESHOJE: Como acha que sua proximidade com o governador e seus anos de experiência à frente da SESP podem contribuir com o triunfo nas eleições 2018?
André Garcia: Nunca contei com a vitória antes do tempo. Faço questão de cumprir etapas. Nunca fui de esconder problemas e nunca me escondi. Sempre fui de enfrentar crises. Sou proativo na comunicação, pois precisamos prestar contas à sociedade com transparência, e isso é fundamental. Temos que ter condição de conversar com a sociedade. Isso, o gestor público tem que ter como característica. As pessoas podem me acusar de qualquer coisa, menos de omissão e covardia. Vou expor meus pontos de vista, posso convencer ou ser convencido. Dogmas não são sinal de inteligência. Se houver pontos de vista, o que vai prevalecer é o melhor, independente de ser meu ou de outra pessoa. Não fujo de debates, nem de problemas.

ESHOJE: O que achou da nomeação de Nylton Rodrigues para a SESP? Ele está preparado para a função?
André Garcia: Certamente. Fiquei feliz com a indicação e a escolha dele. Temos muito em comum no aspecto voltado para resultados da gestão pública, construir condições para o trabalho que se realize da melhor forma possível. Ele tem capacidade de comunicação, de explicar as coisas para a população e pensamos muito parecido. Acredito que vamos caminhar para frente. Não sou saudosista. Acho que vai ter uma grande contribuição no trabalho que fiz e no do que me antecedeu.

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