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Ex-dirigente do COB diz que procurou empresário por ordem de Cabral

Fiéis aliados durante a campanha para que o Rio de Janeiro fosse escolhido sede da Olimpíada de 2016, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) e o ex-diretor do Comitê Olímpico do Brasil (COB) Leonardo Gryner deram declarações conflitantes durante interrogatórios que prestaram nesta quinta-feira ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, em mais uma etapa do processo que investiga a compra de votos para a realização do evento esportivo.

Gryner afirmou ter se apresentado ao empresário Arthur Soares por orientação de Cabral. Logo em seguida, o ex-governador, que não havia presenciado a afirmação de Gryner, negou com veemência que tenha lhe dado essa orientação. Cabral negou também afirmações feitas a seu respeito pelo seu ex-assessor Carlos Miranda e ainda acusou o Ministério Público Federal de ter “preconceito racial” por desconfiar que dirigentes esportivos africanos venderam seus votos para eleger o Rio sede da Olimpíada.

Cabral disse que só encontrou uma vez Lamine Diack, senegalês que teria negociado votos para o Rio enquanto era presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Segundo Cabral, esse encontro ocorreu durante um evento e não foi a sós – cerca de dez pessoas estavam presentes, disse. Cabral afirmou ainda que não conhece nem teve contato com o filho de Lamine, Papa Diack, outro acusado de negociar votos de dirigentes esportivos africanos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada.

O processo em que Cabral, Gryner e o ex-presidente do COB Carlos Arthur Nuzman são réus investiga se o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho ou algum outro apoiou a campanha em troca de benefícios ilegais durante licitações para as obras necessárias à realização do evento. Soares Filho teria pago US$ 2 milhões (cerca de R$ 7,5 milhões no câmbio atual) à família Diack pelos votos, três dias antes da eleição que escolheu o Rio sede da Olimpíada.

No interrogatório desta quinta, Gryner afirmou que, durante um evento da campanha do Rio a sede da Olimpíada, o então presidente da IAAF, Lamine Diack, pediu que, em troca de votos para o Rio, o comitê de campanha investisse US$ 12 milhões (R$ 45,3 milhões) em eventos de atletismo a serem promovidos no Brasil no período anterior à Olimpíada. Gryner afirmou que levou esse pedido aos responsáveis pela candidatura do Rio, e o então governador Cabral orientou Gryner a procurar o empresário Artur Soares para tratar dessa questão. Ele então teria se apresentado a Soares, cujas empresas mantinham diversos contratos com o governo do Estado do Rio.

Cabral negou saber desse pedido de patrocínio e disse que não deu nenhuma orientação a Gryner para que procurasse Soares. Afirmou ainda que Soares “só perdeu” contratos com o governo do Estado durante sua gestão e que, se ganhou mais dinheiro nesse período, foi porque o Estado ampliou os serviços à população e os contratos em vigor precisaram ser redimensionados.

Diante da contradição entre os dois depoimentos prestados em sequência, o juiz Bretas comentou, bem humorado: “Veja como é difícil a vida do juiz”, referindo-se à incumbência de decidir qual deles está falando a verdade. Cabral aproveitou para afirmar que está lendo a Bíblia, que se arrependeu de determinadas condutas e está sendo sincero.

O ex-governador também negou que, já preso, tenha contado a Carlos Miranda a respeito da compra de votos para a Olimpíada. Em delação premiada, Miranda afirmou ter ouvido de Cabral, durante conversa no presídio supostamente ocorrida no início de 2017, que o dinheiro de Arthur Soares foi usado para comprar quatro votos na eleição do Rio. “Nessa época eu já não dava bom dia a Carlos Miranda. Quando eu percebi que ele estava costeando o alambrado (firmando acordo de delação premiada), já estava rompido com ele. Miranda não deu uma prova (da suposta conversa). É sabido pelos presos da Lava Jato (que estavam no mesmo presídio) que já não havia relação minha com Carlos Miranda”, afirmou Cabral ao juiz Bretas.

PRECONCEITO – O ex-governador acusou o Ministério Público Federal de ter preconceito em relação aos africanos, por acusá-los de vender votos para a eleição do Rio. Os dois procuradores que atuavam no depoimento logo intercederam: “O Ministério Público tem o dever constitucional de combater todas as formas de discriminação e defender o respeito a todas as raças e credos”, afirmou um deles. A imputação não é genérica, mas se refere a duas pessoas, Lamine e Papa Diack, continuaram os procuradores. Cabral insistiu na acusação e houve mais troca de farpas entre Cabral e os procuradores.

Durante o depoimento, Cabral ainda reclamou de ter ficado conhecido por “uma festa por conta de uma homenageado em Paris”, referindo-se à “farra dos guardanapos”, jantar em restaurante de Paris, em setembro de 2009, quando o então governador e outros políticos, empresários e assessores fizeram uma comemoração e tiraram fotos com guardanapos amarrados na cabeça.

Em outro momento do depoimento desta quinta-feira, o ex-governador disse que fazia questão de homenagear o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. “Homenagem ou campanha?”, perguntou Bretas – Meirelles é o candidato do MDB à presidência da República. Cabral ressaltou que era homenagem e contou do esforço do então presidente do Banco Central para participar de um evento da campanha pela candidatura do Rio a sede da Olimpíada.

FAMÍLIA – Antes da audiência, o ex-governador se encontrou, numa sala do prédio da Justiça Federal, no centro do Rio, com seus pais, Sérgio Cabral e Magaly, e com o filho Marco Antônio, a mulher dele e o filho do casal, um bebê também chamado Marco Antonio que completará cinco meses no próximo dia 23. A reunião das quatro gerações foi marcada por emoção. Cabral conheceu o neto durante um intervalo de outra audiência, realizada em 5 de junho no mesmo prédio.

Fábio Grellet
Estadao Conteudo
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