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Entidades se manifestam contra execução de irmãos no Morro da Piedade em Vitória

Foto: Reprodução / Facebook
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O assassinato dos irmãos Damião Reis, 22 anos, e Ruan Reis, 19 anos, na madrugada do último domingo (25), no Morro do Piedade, em Vitória, gerou grande comoção e várias entidades se manifestaram a respeito do episódio.

Na manhã desta segunda-feira (26), a Pastoral do Menor emitiu nota sobre o assunto. O padre Saverio Paolillo, mais conhecido como padre Xavier, assina o texto, no qual afirma que “ambos os irmãos eram conhecidos pelo sorriso que foi apagado por mais de dezenas de tiros disparados por assassinos que ceifam todo dia a vida de trabalhadores e trabalhadoras, agentes de segurança pública, militantes de direitos humanos, brasileiros e brasileiras de todas as idades, mas atingindo com mais crueldade a juventude negra das comunidades da periferia”.

Os dois irmãos foram executados com mais de 20 tiros disparados contra cada um. Até o momento, nenhum suspeito foi detido. Os corpos de Ruan e Damião serão sepultados nesta segunda-feira, no cemitério de Maruípe, em Vitória.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou apenas que a ocorrência foi atendida pelo plantão da Divisão de Homicídios  Proteção à Pessoa (DHPP) e não teve ninguém detido e segue sob investigação da Polícia Civil.  Ainda segundo a nota, “outras informações, no momento, não serão passadas para não atrapalhar a apuração do fato”.

Denúncias que colaborem com o trabalho da polícia podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia 181, o sigilo e anonimato são garantidos

Veja a nota na íntegra:

O MORRO DA PIEDADE AMANHECE HOJE COMO UMA IMENSA MÃE DAS DORES
A Semana Santa no Estado do Espírito Santo começa num clima de profundo pesar. Dois jovens irmãos, Damião Reis (22 anos) e Ruan Reis (19 anos) foram fuzilados na madrugada de Domingo de Ramos (25) no Morro da Piedade em Vitória. Os moradores da comunidade estão profundamente abalados. Ruan e Damião eram muito queridos. Segundo os vizinhos, não tinha nenhum envolvimento com a criminalidade. Testemunhas relatam que Damião foi o primeiro a ser morto, pois entrou na frente do Ruan para protegê-lo.

Ruan e Damião eram dois jovens cheios de vontade de viver. Batalhavam para vencer as desigualdades que ferem a dignidade da juventude pobre, negra e da periferia.

Ruan havia terminado recentemente o ensino médio, fazia trabalhos informais para viver honestamente e era apaixonado por capoeira. Damião trabalhava como pedreiro, era professor de capoeira em um projeto social e passista da escola de samba Unidos da Piedade. Morreu no mesmo dia em que o filho completava um ano de vida.

Ambos os irmãos eram conhecidos pelo sorriso que foi apagado por mais de dezenas de tiros disparados por assassinos que ceifam todo dia a vida de trabalhadores e trabalhadoras, agentes de segurança pública, militantes de direitos humanos, brasileiros e brasileiras de todas as idades, mas atingindo com mais crueldade a juventude negra das comunidades da periferia.

O Morro da Piedade amanhece hoje como uma imensa Mãe das Dores que aperta em seu colo o corpo sem vida de dois filhos queridos. Seu sofrimento é igual àquele de Maria quando devolveram ao seu seio materno, feito para gerar vida, o Filho morto inocentemente. É uma dor inconsolável que aflige os corações de famílias e comunidades sofridas do Brasil afora condenadas a viver uma eterna Sexta-Feira Santa. Os belos morros de todas as cidades brasileiras, um dia cobertos de verdejantes matas, tingem-se de vermelho do sangue derramado de nossos irmãos e irmãs e transformam-se em Calvários sobre os quais um número a perder de vista de cruzes atestam que a vida no Brasil está valendo cada vez menos.

Nas procissões e celebrações dessa Semana Santa carregaremos no andor de Nossa Senhora o sofrimento das Marias das Dores que pelo País afora choram a morte prematura de seus filhos e, caminhando atrás do Crucificado, faremos memória de todas as vítimas da violência. Mas não basta. Para nós cristãos a dor da paixão e a cruz são etapas provisórias. O destino final é a Páscoa. Portanto, mesmo chorando pela dor, nunca deixemos apagar o Espírito Pacal que nos impulsiona a lutar permanentemente pela vida. Que o Morro da Piedade se torne o Morro da Ressurreição.
E, nome da Pastoral do Menor, manifesto solidariedade à família de Ruan e Damião e à toda comunidade do Morro da Piedade.
Damião, presente!
Ruan, presente!

Pe. Saverio Paolillo (PE. Xavier)
Missionário Comboniano
Pastoral do Menor e Carcerária
Centro de Direitos Humanos dom Oscar Romero – CEDOR/PB
OAB/ES repudia extermínio da juventude negra

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Espírito Santo (OAB/ES), por meio da Diretoria de Direitos Humanos, no seu dever humanitário, ético e político, vem perante a toda sociedade capixaba, manifestar solidariedade à família dos jovens irmãos Damião de 22 anos e Ruan de 19 anos, executados com mais de 60 disparos de arma de fogo na madrugada deste domingo, 25/03/2018.

Ruan acabara de concluir ensino médio, atuava em um projeto social e era apaixonado por capoeira; Damião era pedreiro, passista da escola de samba Unidos da Piedade, atuava em um projeto social e morreu no dia em que seu filho fazia um ano de vida. Damião morreu tentando salvar a vida de seu irmão que estava sendo levado, por engano. A família, tradicional na Piedade, agora se vê dilacerada pela dor que a violência provoca e pelo vazio que jamais será preenchido. Dois jovens negros e moradores da periferia, foram executados; seus velórios se transformarão em luta, pois esse ciclo perverso precisa ter fim.

Dois jovens negros pobres foram executados com 60 disparos de arma de fogo, passarão a compor as estatísticas de 2018. E agora? Agora precisamos responder a pergunta: O QUE ESTAMOS FAZENDO ENTRE UM HOMICÍDIO E OUTRO?
Vitória, 25 de março de 2018.
Verônica Bezerra
Diretora de Direitos Humanos da OAB/ES

Até quando vamos chorar? Questiona grupo

O Grupo Raízes lamenta profundamente e com intensa tristeza o assassinato dos jovens irmãos Damião e Ruan, ocorrido nesta madrugada no alto do Morro da Piedade, bairro sede do Raízes.

Os dois jovens moravam na comunidade, atuavam em ações coletivas sociais, sambistas (Damião era passista da escola e seu avô Ailton Canário foi fundador) e eram membros de uma das mais tradicionais família do bairro.

O Raízes se solidariza com a família e amigos dos jovens, neste momento inconsolável.
Hoje mais um lamento triste de dor ecoa no Morro da Piedade e o samba cede a passagem para a violência ! Mais uma noite atravessada pelo som de tiros.

Mais uma noite em que famílias acordam com medo sem saber se é um dos seus ou amigos que estão perdendo a vida.
No lugar das mais de 60 balas atiradas pelos becos, nas paredes das casas, escadarias e principalmente contra o corpo de jovens negros, sangue, lágrima e muita dor de mais uma mãe que perde seus filhos para a violência urbana.
Aos moradores restou limpar o sangue das escadarias e contabilizar as cápsulas de arma de fogo espalhadas pelo morro.
Até quando vamos chorar cotidianamente a morte de nossos irmãos e irmãs?

Reafirmamos nosso posicionamento e compromisso com a cultura popular, de reconhecer os morros da Piedade e Fonte Grande como o território do samba capixaba, através de ações que promovem a auto estima, sociabilidade, a cultura de paz e a reafirmação das identidades afrobrasileiras que permeiam esta região, cerca de 70% dos moradores desse lugar são negros e possuem entre 0 e 29 anos.

Estamos enlutados, mas a busca por uma comunidade mais justa, igualitária e que se sinta parte dessa cidade e sociedade para sua verdadeira transformação social.

Precisamos de todos vocês para superar essa violência que nos atinge.

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