Menos de 24 horas após o Sindicato dos Médicos do Estado (Simes) e do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), vistoriarem o Hospital Infantil de Vitória, as entidades retornaram à unidade na tarde desta terça-feira (11), e querem mais ação dos órgãos fiscalizadores. De acordo com o presidente do Simes, Otto Baptista, é imprescindível a ajuda do Ministério Público Estadual (MPES) e Federal (MPF-ES), além da Defensoria Pública e da Ordem dos Advogados (OAB-ES), para pressionar o Governo do Estado a fornecer melhores condições de trabalho e atendimento no Hospital Infantil de Vitória.
Nesta segunda (10), representantes do Simes e do CRM-ES estiveram na unidade hospitalar e constataram problemas, como: superlotação, crianças internadas nos corredores e dividindo berços e macas, mães dormindo com criança no colo sentadas em cadeiras de plástico. Sem contar, a falta de efetivo médico para atender a demanda. Durante a visita foram contabilizadas 60 crianças aguardando atendimento e mais 30 esperando para receber alta do hospital.
Antes de iniciarem uma nova vistoria nesta tarde, a Direção Clínica do Hospital Infantil chamou as entidades para uma reunião de portas fechadas. Segundo os representantes, a direção informou que medidas já começaram a ser tomadas para minimizar a situação vista na segunda. Além disso, o próprio secretário de Estado da Saúde (Sesa), Ricardo de Oliveira, entrou em contato e garantiu melhorias no Infantil de Vitória.
“Gostaríamos que o Ministério Público realizasse fiscalização no Hospital. Queremos um atendimento mais humanizado, a situação do trabalho no local é insalubre. Temos na unidade um corpo clínico de alta qualidade, mas não o suficiente para realizar os atendimentos. Essa situação está se arrastando há décadas e o Himaba (Infantil de Vila Velha) tem condições de receber esses pacientes. Estamos apelando aos governantes, Defensoria, Ministério Público, Justiça e a OAB para nos ajudar a mudar essa situação”, declarou o presidente do Simes.
Para o presidente do CRM-ES, Carlos Magno Pretti, o que tem se visto no Hospital Infantil de Vitória é um ambiente hostil para as crianças, que têm o seu quadro clínico agravado ao dividir berços e macas com outras crianças enfermas. “A situação aqui é de médio e longo prazo, estamos vendo um ambiente hostil, mas este hospital é referência, com pediatras competentes e que tratam de casos de alta complexidade, que exigem maior atenção. Mas estamos vendo que devido a alta demanda isso está sendo prejudicado. Já passou da hora da rede pública de saúde municipal realizar ações resolutivas em seus Prontos Atendimentos. Isso não é uma novidade”, ressaltou.
Perpetuação do caos
Apesar de ter sido constatado uma leve melhora no Pronto Socorro do Hospital Infantil de Vitória, nesta terça (10), os médicos ressaltaram que a situação só melhora por poucos dias. Até às 16h, havia 52 crianças internadas no local, sendo que não poderiam estar ali, elas deveriam ser transferidas para os hospitais de retaguarda do Estado.
A pediatra e integrante do corpo clínico do Infantil de Vitória, Tânia Perim, desabafou ao revelar o sentimento de impotência em tentar fazer mais do que consegue. “Muitas das vezes temos apenas dois médicos para realizar todos os atendimentos e suas intercorrências. A quantidade de pediatras prejudica os atendimentos. Temos crianças dividindo maca, o que complica, já que as doenças são transmitidas de uma para outra. O número de médicos está muito aquém do necessário, assim somos sobrecarregados e acabamos não oferecendo um serviço adequado”, esclareceu.
Perim lembrou ainda da “desculpa” da falta de pediatras, dada pelos gestores do Estado e administradores do Hospital. Para ela, a verdadeira razão para não ter mais profissionais nos hospitais públicos, são as péssimas condições de trabalho. “Temos muitos pediatras e da mais alta qualidade e capacidade. Mas quem quer trabalhar em um local totalmente insalubre? Temos que ver crianças no corredor, no chão, em cadeiras de plástico com suas mães”.
A dona de casa, Izamara de Andrade Gomes, 22, é moradora de Vila Velha, e procurou o Pronta Atendimento (PA) da Glória no último domingo (9), porque o filho, Danillo, 2, estava com sintomas de pneumonia. Ao confirma o quadro, a criança foi transferida para o Infantil de Vitória e não, da cidade canela-verde.
“As condições são horríveis, estamos tendo que dormir na maca ou com ele na cadeira. Tem mães dividindo a maca com mais duas ou três crianças, é um absurdo. Elas estão no corredor, o que é uma situação muito constrangedora. O Governo gasta muito dinheiro com tanta coisa e não pode investir no hospital para cuidar da saúde das crianças? É muito triste para uma mãe”, salientou a mãe de Danillo.
Já a Viviane Emílio, 28, está em Vitória com o filho Tales, trazidos da Bahia para realizar um exame de rotina. Com o resultado o menino precisou ficar internado. “O problema renal dele se agravou e precisei ficar. Estamos aguardando vaga para subir para as enfermarias, mas está tudo lotado. Estou no Pronto Socorro, na cadeira porque não tem maca, a criança dorme no colo e é perigoso”.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) informou que já está adotando medidas para melhorar o fluxo de atendimento no Hospital Estadual Infantil de Vitória. Serão disponibilizados 21 leitos de retaguarda no Hospital Estadual Infantil e Maternidade de Vila Velha e 21 leitos de retaguarda no Hospital Estadual Dório Silva, na Serra.
“Os pacientes terão o primeiro atendimento no Hospital Estadual Infantil de Vitória e depois, se necessitar de internação, serão referenciados para estas unidades. A Sesa reforça que está com processo seletivo para médicos em aberto, porém, até o momento está com baixa adesão dos profissionais. As inscrições para cadastro de reserva seguem até o dia 16 (domingo) e devem ser feitas pelo site www.selecao.es.gov.br”.
