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Engarrafaram a sua vida

Dizem alguns que a faculdade de pensar e meditar calmamente sobre a realidade e seus problemas é absolutamente essencial a qualquer civilização que se pretenda vencedora. Será daí, serenamente, que serão retiradas soluções adequadas ao momento histórico vivido.

         Dia desses, contemplando a cena selvagem de um congestionamento de trânsito, palco de tantas violências que a impaciência traz, fiquei a me perguntar se não é chegada a hora de, com serenidade e grandeza, meditarmos sobre a mobilidade urbana.

         Comecemos pelos custos do problema: um estudo da Fundação Getúlio Vargas apontou que a lentidão no trânsito da cidade de São Paulo provocou, apenas em 2012, uma perda de R$ 40,2 bilhões, o que representa 7,6% do PIB desta.

         Se partirmos para a realidade nacional, cálculos realizados em 2002 apontaram uma perda de 6% do PIB só por conta dos congestionamentos de trânsito – na época, o dobro de todo o orçamento do Ministério da Saúde, por exemplo.

         Este problema não é, evidentemente, exclusividade brasileira: em Portugal são desperdiçados, por ano, cerca de 2 bilhões de Euros apenas com a queima de combustíveis por carros parados em congestionamentos – não estão incluídos nesta conta os prejuízos decorrentes de tratamentos de saúde, mortes, negócios perdidos etc.

         No Reino Unido, por exemplo, este quadro acarreta a perda de 123 milhões de horas de trabalho – uma realidade que acaba afetando a saúde e a felicidade dos trabalhadores, assim como de toda a sociedade.

         Em confirmação ao quanto este problema nos afeta, cito pesquisa outra, indicando que cada europeu e norte-americano perde, a cada ano, 111 horas parado nos congestionamentos de trânsito – tempo furtado à família, ao trabalho ou à saúde.

         O mesmo estudo alertou que, a persistir esta situação, em 2030 só os EUA, Reino Unido, França e Alemanha amargarão prejuízos da ordem de 231 bilhões de Euros – para fins de comparação, 50% a mais do que perderam em 2013. De hoje até lá, só a Alemanha perderá 520 bilhões de Euros, ou 20% de seu PIB, apenas nesta rubrica.

         A solução para este problema é absolutamente simples: racionalizar nossas soluções de transporte, principalmente as de natureza pública. Só isso, e nada mais do que isso. Temos, enquanto humanidade, tecnologia e recursos à vontade para tanto. Aliás, suspeito que apenas com a redução dos prejuízos causados à economia pagaríamos, com folga, sensíveis avanços nesta área.

         O raciocínio é muito simples: a partir do momento em que pudermos contar com uma boa rede de transportes públicos e com veículos mais compatíveis com nossa capacidade tecnológica, conviveremos com menos vítimas de acidentes, índices de poluição menores, mais dinamismo na economia e maior serenidade no seio da sociedade como um todo.

         Após sonhar com este cenário, tão belo quanto possível, acorde e contemple, com olhos de ver, a sua rua, o seu bairro, a sua cidade, o seu país e até mesmo o seu planeta – para perceber o quão atrasados estamos nesta área! Surpreendentemente atrasados!

         É realmente intrigante: já temos tecnologia para enviar um homem à Lua, mas não conseguimos transportá-lo de forma eficiente dentro de uma cidade! Queremos ir a Marte, mas ainda convivemos com meios de transporte conceitualmente quase que medievais, apesar da aparência moderna. Por que será?

         Perdido nestas reflexões, lembrei-me de um dito popular segundo o qual “tartaruga não sobe em árvore”. Assim, se encontrarmos alguma passeando bem no alto da vegetação, equilibrando-se sobre algum galho, tenhamos uma certeza: alguém a colocou lá – e buscando algum benefício.

         Eis aí um ótimo tema para reflexão: quem, às custas de engarrafar nossas vidas, mantém lá no alto uma tartaruga?

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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