Com a participação ativa do produtor rural e com o apoio de técnicos agrícolas, ambientais, agropecuários e florestais, a Fundação Renova vai recuperar 533 nascentes na segunda fase da frente de Recuperação de Nascentes e APPs. Cerca de 250 propriedades recebem auxílio para proteger 375 nascentes em Minas Gerais e 158 no Espírito Santo. A seleção das regiões ficou a cargo dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) Suaçuí, Pontões e Lagoas do rio Doce e Piranga, que definiram as cidades de Piranga, Suaçuí, Governador Valadares, Galileia, em Minas Gerais e Marilândia, Pancas e Colatina, no Espírito Santo, como foco desta etapa.
Foram diversos encontros com técnicos e educadores para tirar as últimas dúvidas dos produtores rurais e explicar sobre o cronograma, atividades e responsabilidades mútuas que envolvem o processo. Os profissionais envolvidos já deram entrada na realização da cartografia social. Esta etapa visa conhecer a fundo a história do local, da propriedade e proprietários, além de práticas produtivas e culturais, como festas e hábitos. O objetivo é integrar a cultura e os valores dos agricultores e da vizinhança ao planejamento do uso do solo. Com estas informações, será criado um projeto individualizado para cada propriedade para detalhar as práticas agropecuárias e conservacionistas a serem implantadas no local, com o foco principal na produção de água pela recuperação das nascentes. Após definido e aceito o projeto para cada área, o produtor rural vai receber, além dos insumos para as obras de recuperação, uso de maquinário e assistência técnica rural.
Na primeira etapa do programa de Recuperação de Nascentes e APPs, a Fundação Renova, em parceria com Instituto Terra, concluiu o plantio de 117 mil mudas de espécies da Mata Atlântica nas primeiras 511 nascentes de afluentes do rio Doce protegidas. A parceria, que teve início em novembro de 2016, tem o objetivo direto de promover a revitalização do rio Doce a partir da ampliação do Programa Olhos D’Água. As nascentes estão localizadas nas bacias do Suaçuí Grande (municípios de Jampruca, Campanário, Itambacuri e Frei Inocêncio – em Minas Gerais; e de Santa Maria do Doce, em Colatina, no Espírito Santo); e na bacia do rio Pancas (municípios de Pancas, Governador Lindenberg, Marilândia e Colatina, todos no Espírito Santo).
De acordo com José Almir Jacomelli, líder de Operações Agroflorestais na Fundação Renova, a maior parte das ações foi feita dentro de propriedades rurais, uma vez que as nascentes estão localizadas nestas áreas. Ao todo,
215 proprietários aderiram à proposta. Antes de promover o trabalho de plantio, os técnicos avaliaram as necessidades de intervenção.
As nascentes foram cercadas para o processo de regeneração, mas a maioria precisou de ações de enriquecimento e aumento da diversidade de espécies nativas para a completa restauração florestal. Os principais objetivos do cercamento são proteger as nascentes dos animais de grande porte e testar a capacidade do ambiente em se regenerar sozinho. “Quando uma nascente não é cercada dentro de uma área destinada à criação de gado, por exemplo, há o risco de ela ser pisoteada pelos animais, compactando o solo, prejudicando e até impedindo a saída da água”, afirma Jacomelli.
Após o cercamento, os proprietários fizeram o preparo do solo e a revegetação do entorno dos olhos d’água. Para isso, foi necessário tirar as plantas invasoras, coletar as sementes nativas da região, cultivar as mudas e plantá-las. “Fizemos um trabalho de capacitação para que eles participassem de todas as etapas”, destaca o líder.
Francisco Leal, produtor rural de Itambacuri (MG), aprendeu muito com as ações de reflorestamento. “Abraçamos a causa a partir de reuniões e dias em campo. Na propriedade onde atuo, cercamos três nascentes. O plantio chegou a mil mudas, sendo que 99% já estão em desenvolvimento”, afirma.
O plantio das mudas nativas das ações de reparação e de compensação da Fundação Renova está previsto no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), um acordo assinado em 2016 entre Samarco Mineração – com o apoio de suas acionistas, Vale e BHP Billiton – e o Governo Federal. A meta é recuperar 5 mil nascentes da bacia do rio Doce em 10 anos.
De acordo com o líder dos programas Socioambientais da Fundação Renova, Lucas Scarascia, a determinação do TTAC abre novas frentes de atuação na área de reflorestamento. “É uma grande oportunidade de desenvolvimento de uma rede de fornecimento de sementes e mudas produzidas localmente, acoplada às políticas públicas existentes. Abrimos caminhos para que ações como estas sirvam de exemplo para outras etapas de recuperação.”