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Drogas no Espírito Santo: estudo aponta que são 25 mil os usuários de crack

por   Gustavo Gouvêa – [email protected]

{'nm_midia_inter_thumb1':'http://www.eshoje.jor.br/_midias/jpg/2013/09/19/1_crack_cracolandia_sp_drogas_size_598-38879.jpg', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'523b1d8c9e7eb', 'cd_midia':38874, 'ds_midia_link': 'http://www.eshoje.jor.br/_midias/jpg/2013/09/19/crack_cracolandia_sp_drogas_size_598-38874.jpg', 'ds_midia': 'd', 'ds_midia_credi': 'd', 'ds_midia_titlo': 'd', 'cd_tetag': '1', 'cd_midia_w': '360', 'cd_midia_h': '202', 'align': 'Left'}O Estado do Espírito Santo vive uma epidemia das mais difíceis de tratar: a dependência química. A pior de todas elas – devido seu efeito e dependência rápidos -, o crack, tem feito cada dia mais reféns. Segundo levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), demandado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), existem cerca de 370 mil usuários regulares de crack e similares no Brasil, sendo que aproximadamente 25 mil destes se encontram em território capixaba.
A pesquisa, que ouviu 7.381 mil usuários regulares da droga em 112 municípios brasileiros, incluindo as 26 capitais estaduais e o Distrito Federal, concluiu que o perfil dominante do usuário de crack é composto por homens pretos ou pardos com idade média de 30 anos, solteiros, que estudaram no máximo até o fim do ensino fundamental.
Eles passam a maior parte do tempo nas ruas, trabalham esporádica ou autonomamente para sustentar o vício, e utilizam o crack associado a pelo menos outras duas drogas – como tabaco, álcool, maconha, haxixe ou cocaína. Esses usuários começaram a usar a droga pela curiosidade de sentir o efeito e fumam em média 13 pedras de crack diariamente, podendo este número variar para mais ou para menos.
O relatório apontou ainda que de 42% dos entrevistados foi detido no último ano, sendo que o motivo, em 17,7% dos casos foi roubo, assalto, furto, fraude ou invasão de domicílio.
O aumento de usuários de cocaína, droga cujo crack é derivado, no Brasil foi apontado em um outro estudo realizado recentemente pelo Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). O relatório revelou que o uso de cocaína e derivados mais do que dobrou nos últimos dez anos no Brasil (passando de 0,7% para 1,75% da população) e é quatro vezes superior à média mundial de 0,4%. “Faz tempo que o Brasil deixou de ser apenas uma rota da droga que vem dos países andinos e passou a ser um mercado fundamental”, afirma o relatório.
Estudiosos e autoridades do assunto confirmam o aumento do consumo da droga, porém contestam este número pela falta de parâmetros internacionais bem definidos para se chegar às conclusões.
“Esse número diz respeito principalmente à epidemia de crack em que vivemos. Porém, trabalho com esse assunto há mais de 50 anos e não acredito na realidade deste dado. Não sabemos o tamanho real da encrenca, mas que aumentou, aumentou. Os dados são enviados pelos próprios países e não há um padrão internacional para essa medição. É claro que, por exemplo, o número das pessoas que usaram a droga uma vez na vida é muito superior a quem usa diariamente. Os parâmetros não são claros”, contestou o diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Elisaldo Carlini.
{'nm_midia_inter_thumb1':'http://www.eshoje.jor.br/_midias/jpg/2014/03/07/1_p__gina_09____crack_por_dayana-59212.jpg', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'531a4ee80c188', 'cd_midia':59203, 'ds_midia_link': 'http://www.eshoje.jor.br/_midias/jpg/2014/03/07/p__gina_09____crack_por_dayana-59203.jpg', 'ds_midia': '', 'ds_midia_credi': 'Dayana Souza', 'ds_midia_titlo': '', 'cd_tetag': '3', 'cd_midia_w': '350', 'cd_midia_h': '233', 'align': 'Right'}Descriminalização é responsável pelo aumento
O presidente da Coordenação Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas, Ledir Porto, atribui o aumento no consumo do crack principalmente à sanção da Lei 11.343/2006, que descriminalizou o uso de drogas no Brasil, não tratando o usuário como criminoso.
“O aumento do uso do crack é certo que foi forte a partir de 2006. Pela facilidade de acesso, pelo preço e pela descriminalização do uso da droga, quem já era usuário de maconha, cocaína e álcool passou a ser usuário de crack. É a droga que mais tem novos consumidores. E aí o cara passa a ser dependente, o uso não é mais recreativo”, disse o presidente. E completou: “Não quer dizer que eu seja contra a descriminalização. Mas as políticas públicas de tratamento, cuidado e prevenção não acompanharam a evolução do uso”.
Porto disse ainda que houve um aumento no consumo de crack entre as mulheres no Estado – o que também é visto no relatório da Fiocruz – apesar de mais de 78% dos usuários serem do sexo masculino.
A Coordenação Estadual sobre Drogas foi inaugurada em novembro do ano passado e conta com uma variedade de serviços – como leitos de desintoxicação, comunidades terapêuticas e parcerias com ONGs – que buscam acolher, tratar e reinserir os dependentes químicos na sociedade. Segundo o presidente, mais de 2,6 mil pessoas já foram encaminhadas para tratamentos.
“Em 100 dias atendemos e encaminhamos mais de 2,6 mil pessoas. Temos 12 leitos de desintoxicação no HPM e 420 vagas de acolhimento e cuidado em 16 comunidades terapêuticas. Ainda temos parceria com instituições do terceiro setor que acompanham os dependentes e ensinam a família como lidar com a situação”, disse.
Incidência de HIV é oito vezes maior em usuários de crack
A pesquisa ‘Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares’, feita pela Fiocruz e encomendada pela Senad, revelou que a contaminação pelo vírus HIV entre os usuários de crack no Brasil é oito vezes maior do que na população em geral. Enquanto no grupo das pessoas que consomem regularmente esse tipo de droga ilícita a prevalência de contaminação é de 5%, no conjunto da população brasileira essa porcentagem é 0,6%.
Os dados também revelam um aspecto que pode justificar esse panorama: mais de um terço dos usuários (39,5%) informou não ter usado preservativo em nenhuma das relações sexuais vaginais no mês anterior à entrevista. Nas relações sexuais orais o percentual é ainda maior. O relatório mostrou que 50% dos usuários não usaram preservativo, e nas relações sexuais anais a mesma situação foi relatada por praticamente 30% dos entrevistados. Além disso, mais da metade dos entrevistados (53,9%) relataram nunca ter feito teste para HIV.
Droga das tragédias pessoais das classes mais pobres
De acordo com Guaracy Mingardi, cientista político especialista em crime organizado, o crack tem como público alvo a classe mais pobre, e que o destino da maioria dos usuários é acabar vagando pelas ruas buscando manter o vício. Segundo ele, estamos em uma segunda geração dos usuários de crack.
“O crack não é usado pelos executivos que cheiram uma carreira antes da reunião. O crack é usado pelos mais pobrezinhos. Um ou outro que vem das classes mais altas que vai pro crack. Tivemos uma geração anterior aos anos 2000 que já desapareceu. É difícil você ver um usuário de crack de 20 anos atrás. Hoje temos uma nova geração que, no máximo seis meses depois de passar a usar todo o dia, já está na rua, nas cracolândias”, explica.
Ledir Porto vai ainda mais longe: “O crack joga para o fundo do poço, na lata do lixo. O usuário perde família, dignidade, autoestima. Ele perde todo o afeto por ele mesmo não se importando em ficar sujo, viver na rua e ter um comportamento desumano com ele mesmo”.
Elisaldo Carlini acredita que, muito mais do que uma epidemia, o crack é a droga das tragédias pessoais. “Os problemas que ocorrem em decorrência do crack são geralmente coisas pavorosas e violentamente trágicas que chocam a opinião pública: mata o tio, a avó… E isso justifica posturas como a internação compulsória, que não têm efetividade”.
Perfil dominante do usuário de crack no Brasil
Faixa etária: 25 a 34 anos (42%)
Sexo: Masculino (78,7%)
Raça: Não-brancos com predominância de pretos e pardos (80%)
Estado civil: Solteiro (60,6%)
Escolaridade: 4ª à 8ª série do ensino fundamental (55%) / [apenas 5% chegaram a cursar o nível superior / 77% chegaram, no máximo, à 8ª série / 18% têm ensino médio completo ou incompleto]
Moradia: Em apartamento ou casa próprio ou da família (39%) / Nas ruas, sem teto (35%) /*ressalta-se que cerca de 40% dos usuários passa a maior parte do tempo nas ruas.
Formas de obtenção de dinheiro: Trabalhos esporádicos ou autônomos (65%) / Pedir esmola (12%) / Empréstimo e presente de família, amigos ou parceiros (11%) / Atividades ilícitas como furtos, roubos e estelionatos (9%) / Profissional do sexo (7,5%)
Consumo de crack associado a outras drogas: Tabaco (92%), Álcool (84%), Maconha ou Haxixe (76%), Cocaína (52%)
Motivação para o consumo: Sentiu vontade ou curiosidade de ter o efeito da droga (58,3%) / Perdas afetivas, problemas familiares ou violência sexual (29,2%) / Pressão dos amigos (26,7%)
Frequência do uso: Usa todos os dias, uns dias mais, uns dias menos (56%) / Usa todos os dias a mesma quantidade (14%)
“Apetrecho” de uso: Cachimbo (74,9%), lata (51,8%), Fristo – mistura de crack e maconha em baseado (39,4%), em cigarro misturando crack e tabaco (32,2%), em copo plástico (28,3%)
Aspectos criminais: 41,6% dos entrevistados foram detidos no último ano por uso de drogas (13,9%), por assalto ou roubo (9,2%), por furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) ou por produção ou tráfico de drogas (5,5%)
*Pesquisa realizada com 7.381 mil usuários regulares de crack no Brasil
Fonte: Fiocruz

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