Leone Oliveira – [email protected]
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) começa a discutir a possibilidade de passar a avaliar o nível de conhecimento dos médicos recém-saídos das faculdades e escolas de medicina do estado. A avaliação seria inspirada no método adotado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), onde o exame já é aplicado há 10 anos – os últimos três, obrigatórios para emissão do registro profissional.
Além de avaliar o nível de conhecimento dos médicos recém-formados, o teste também permite o mapeamento de quais instituições estão proporcionando uma melhor formação de profissionais. O presidente do Cremesp, Bráulio Luna Filho, foi convidado pelo CRM-ES a participar de reunião com integrantes do conselho e apresentar os resultados obtidos nesse período.
No último exame, que teve os resultados divulgados em janeiro deste ano, 55% dos médicos foram reprovados no por não terem atingido a pontuação mínima prevista no teste (60% da prova).
Nos anos anteriores, os índices de reprovação também foram altos, por exemplo, em 2013 quando mais de 59% dos avaliados não alcançaram a pontuação mínima exigida pelo exame.
Para Filho, o baixo desempenho está relacionado a abertura indiscriminada de escolas de medicina em São Paulo. Segundo ele, foram mais de 30 neste ano. “Quando o governo começa a abrir escolas de forma indiscriminada, é um problema sério, porque começam a aparecer médicos despreparados”, ressalta ele.
O teste se assemelha ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), obrigatório para obter registro de advogado e poder exercer a profissão. No entanto, mesmo reprovado na prova do Cremesp, o médico pode ter acesso ao registro, pois ainda não há legislação que determine a avaliação como requisito para carteira profissional de médico, diferente do que ocorre com os formados em direito.
O primeiro-secretário do CRM-ES, Delson de Carvalho Soares, conta que a possibilidade de passar a aplicar esse tipo de avaliação nos médicos capixabas começa a ser discutida no conselho. “Ainda não temos decisão tomada a nível de conselho, mas eu sou favorável ao exame”, revelou ele.
Enade é fragil, diz presidente do Cremesp
Atualmente, os estudantes de cursos superiores no país realizam a prova do Enade para que o nível de conhecimento seja avaliado. A aplicação do teste acontece no primeiro e no último ano de faculdade. Filho, porém, argumenta que a prova não é suficiente para avaliar o conhecimento dos estudantes.
“A nota do Enade não é garantia de boas escolas médicas. A maioria das escolas estão com notas dois ou três”, diz ele, “o sistema de avaliação do Enade é frágil. Fiz parte desse sistema e posso dizer que é frágil pelo poder político”, conta ele, revelando que há influência política na avaliação das faculdades.
Por fim, o presidente da Cremesp revela que os médicos formados em escolas de medicina avaliadas no Enade com notas três ou quatro possuem índice de reprovação de 70% no exame do conselho.
Resistência
Embora seja obrigatório para a emissão do registro profissional de medicina em São Paulo, a reprovação no exame do conselho não significa que o médico recém-formado estará impedido de exercer a profissão, pois, atualmente, não há legislação que estabeleça a aprovação na prova como requisito para a carteira profissional.
No ano passado, conta Filho, uma proposta do senador Tião Viana (PT-AC), nos moldes como é aplicado em São Paulo, foi rejeitada pelo Senado no ano passado.
Na primeira vez em que o exame foi obrigatório para a retirada do registro, 40 médicos realizaram um boicote, porém, em acordo com o conselho, fizeram a prova meses depois.
Para o presidente da Cremesp, existe um lobby de escolas e professores para que o exame não seja regulamentado, pois poderia trazer prejuízo às instituições.
A prova aplicada pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo é de múltipla escolha e possui 120 questões sobre as principais áreas da medicina (clínica médica, saúde mental, clínica cirúrgica e pediatria, por exemplo). O avaliado não pode entregá-la em branco ou chutar respostas (há um método para verificar essa prática).
