Por Pedro Cunha ([email protected])
Paulista de alma carioca, Lenny Niemeyer deu o pontapé inicial para sua marca na garagem de casa, no Rio de Janeiro. Depois da sugestão de uma amiga, começou a revender biquínis, fazendo pequenas modificações nas peças, e acabou tomando gosto pela coisa. Em seguida, junto de algumas costureiras, um rolo de lycra e argolas de tutano de boi, viu nascer seu primeiro biquíni, ainda nos anos 80.
Quase três décadas depois da criação de sua marca homônima, Lenny Niemeyer se tornou a maior estilista de moda praia do Brasil e uma das principais do mundo. Mas, é claro, sem perder a essência e o pique do início da carreira. Em entrevista exclusiva a ESHOJE, Lenny afirma que suas maiores inspirações continuam sendo a natureza, a arte, arquitetura, o lifestyle brasileiro e as mulheres do país verde-amarelo.
No comando de uma marca presente nos quatro cantos do mundo, a estilista declarou que nunca imaginou que tomaria proporções internacionais. Lenny diz que é “sem dúvidas uma satisfação enorme” ver no que sua grife se tornou. Suas roupas vestiram desde top models como Naomi Campbell e Gisele Bündchen, a atrizes ganhadores do Oscar, como a americana Nicole Kidman.
Atualmente, a grife de beachwear possui mais de 20 lojas e está em mais de 180 multimarcas no Brasil, além de exportar para todos os continentes. Suas peças podem ser encontradas em lojas do cacife da Bergdorf Goodman, nos Estados Unidos. Além disso, Lenny também foi da praia para o cotidiano e passou a criar roupas casuais para “vestir as mulheres contemporâneas que valorizam o conforto e qualidade”, afirma.
Convidada para abrir o Vitória Moda 2018, Lenny conquistou, no último dia 7 de julho, seu primeiro troféu internacional, como designer do ano, em Paris. A premiação elevou a estilista ao patamar de pessoas como o belga Raf Simons, que recebeu a mesma premiação. Ele foi diretor criativo da Dior entre 2012 e 2015 e, atualmente, é chefe do escritório criativo da Calvin Klein.
ESHOJE: Você é paulista de Santos mas tem uma relação especial com o Rio. Em uma campanha que participou, você se dizia “carioca desde o primeiro biquíni”. Como essa relação tão intensa com a cidade foi construída? Foi só por conta dos biquínis ou tem algo a mais?
Lenny: O Rio de Janeiro foi a cidade escolhida porque casei com um carioca e com ele tive dois filhos. Este foi o primeiro motivo, mas logo me apaixonei pela cidade e fiz dela uma grande inspiração para meu trabalho e nascimento de minha marca.
Aquele biquíni com argola de tutano de boi ainda influencia na Lenny de 2018? O que mudou de lá pra cá?
Aquele foi o meu primeiro biquíni. Tive a necessidade de inovar justamente inserindo um acessório meio a lycra e este tipo de interferência existe até hoje em minhas coleções. Fiz recentemente uma releitura deste modelo com osso, porém usei resina. O que mudou de lá para cá foi o aumento significativo da escala de minha produção, acompanhada da tecnologia dos acessórios, feitos e diversos materiais, aumentando assim as opções para minhas criações.
No Brasil, “é verão o ano inteiro”, então o beachwear não para. Como você faz para inovar e se reinventar no momento de criar uma nova coleção?
Tenho o desafio diário da profissão que escolhi exercer, que lida com criatividade e cobranças constantes a serem trabalhadas. Inovação faz parte de minhas diretrizes. Pesquiso, troco com meu time de estilo e acompanho pelas redes sociais e artigos, sobre a mudança de comportamento mundial.
O advento das mídias sociais mudou a sua forma de criar? E de vender?
Mudou bastante. Virou fonte de pesquisa e vendas. Através delas monitoramos comportamento de nossas clientes, medimos a satisfação e aceitação de nossos produtos, interagimos e vendemos sem muito esforço. O varejo agradece.
Como a moda mudou desde o início da sua carreira até o hoje?
Acho que a moda se tornou mais acessível a todos, muitas marcas surgiram, existe oferta para todas as classes sociais, gostos e tipos de corpo. A moda está mais democrática. Mercados distintos dividindo mesmo espaço físico. Como por exemplo o mercado de luxo se associando às fast fashion, o mix high and low.
Atualmente, é mais difícil se aventurar pela indústria da moda? Empreender está mais complicado?
Empreender nunca foi fácil, independente do setor de atuação. Em termos do mercado de moda, hoje existem incentivos por parte de grandes empresas e fundos de investimentos para start ups e muito mais informação de moda. Muitos cursos profissionalizantes e técnicos que na minha época de universidade eram inexistentes. Muitos precisavam estudar no exterior para cursar moda.
Qual é a dica para quem quer começar uma marca do zero, assim como você fez? O que é necessário ter para criar uma marca e se lançar no mercado?
Persistência, humildade, mas antes de tudo estudo e muita pesquisa. Conhecer profundamente mercado de atuação. Desta maneira os riscos podem ser minimizados.
O networking – se comunicar e ter uma rede de contatos – é importante no mercado atual ou na construção de uma carreira na moda?
Não é fundamental, mas abre muitas portas por serem fontes de informação. Trocar experiências é muito enriquecedor.
Você recentemente recebeu, em Paris, o prêmio Designer of the Year 2018, na feira Unique by Mode City. Como foi recebê-lo e como é ser a Lenny premiada, mulher influente e exemplo de sucesso?
Foi uma grande honra e incentivo para continuar minha trajetória profissional com a mesma dedicação de sempre, para sempre me superar.
Vitória Moda 2018 – Ano 11
Baseado no tema “Praia Urbana”, o Vitória Moda 2018 vai acontecer entre os dias 30 e 31 de julho e 01, 02, 03 e 04 de agosto. O evento se tornou uma espécie de ‘Semana de Moda Capixaba’ e será realizado no Auditório da Findes e no Centro de Convenções de Vitória.
A palestra de abertura, com a estilista Lenny Niemeyer, acontece nesta segunda-feira (30), às 19h30, no Auditório do Findes. As inscrições podem ser feitas pelo site www.vitoriamoda.com
