Neste sábado (16) estreia, em Vitória, o espetáculo genuinamente capixaba, ‘A lenda do reino partido’. A peça é a estreia da estreia: ela lança o ator Duílio Kuster como dramaturgo. E no texto ele traz características autobiográficas. Além de escrever Duílio também atua ao lado de Foca Magalhães, ambos da Folgazões Companhia de Artes Cênicas, que este ano completa 10 anos.
A peça fala de uma trupe teatral em crise, em um reino em crise. É um pouco do que a gente viveu e ainda está vivendo no Brasil. Ao mesmo tempo, é um olhar distanciado para o passado, uma trupe com características medievais, vivendo aquele contexto de crise, de Peste Negra – e aí tem a simbologia da peste como doença, a peste que nos envolve hoje no sentido moral e político, os ratos (fala muito de ratos, tanto no sentido físico quanto uma metáfora dos roedores, das ideias que nos corroem).
O personagem Dionéio (Duílio Kuster) é o líder da trupe. Um sonhador inveterado, mas também aquele que está empreendendo, fazendo a trupe se manter viva. Ele é o grande provedor da trupe toda; a Guiomar (Lorena Lima) é uma personagem que vem do campo, rústica, mais politizada, se apodera da arte para poder fazer o seu discurso chegar às massas; já o Felizberto (Foca Magalhães) é um burguês, criado em boa família, com educação erudita, mas encontrou na arte sua forma de se expressar e acabou largando o conforto para viver as misérias da arte. É o que ele ama de fazer.
Para completar o elenco, foi convidada a experiente atriz de cinema e teatro Lorena Lima (Grupo Beta). A direção é coletiva e a direção musical fica por conta de Dori Sant’Ana.
SOBRE A CONCEPÇÃO
A Folgazões se renovou em 2016 devido a saída de 2 integrantes fundadores. Os atores que permaneceram assumiram as funções e espaços que ficaram abertos, imprimindo um novo ritmo de trabalho à companhia. É um espetáculo de estreias: o texto, primeira dramaturgia de Duílio, sofreu influências do que estava acontecendo política e economicamente com o país em 2016, o impeachment, crise financeira…, e com ele os ânimos aflorados de toda a população.
A concepção visual do espetáculo – cenário, figurino, maquiagem – foram assumidos por Foca Magalhães que até então assinava somente os projetos gráficos da Folgazões. A direção continuou sendo coletiva, uma prática da companhia e seus projetos autorais.
Lorena, a atriz convidada, esteve na raiz do Folgazões e, logo depois, saiu do grupo pouco antes da sua criação. O músico Dori Sant’Ana, que já trabalhou com a companhia em outras montagens, veio para assumir novamente a direção musical. A musicalidade e efeitos sonoros são elementos presentes no espetáculo, conduz e dá a intensidade necessária à cena.