“Cariacica é um desgoverno e este é o retrato da administração de Juninho”, afirma vereador

Sucateada. Esta foi a palavra usada pelo vereador Wellinghton Nascimento de Lima, o Professor Elinho (PV), para descrever a cidade de Cariacica. Em entrevista exclusiva a ESHOJE, o parlamentar foi veemente ao criticar a atual gestão executiva e manifestou o projeto de impeachment contra o prefeito Geraldo Luzia de Oliveira Júnior, o Juninho (PPS).

Em meio à crise que Cariacica enfrentou na área da saúde, no último mês de maio, com o suposto surto de um médico, que promoveu um “quebra-quebra” na U.S. de Jardim América, o vereador definiu o fato como “o retrato da saúde no município” e disse que foi o estopim por causa da realidade dos postos. Segundo Elinho, as unidades de saúde cariaciquenses são tidas como uma das piores do Espírito Santo e que a falta de medicamentos, equipamentos e funcionários são recorrentes. Além disso, de acordo com Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2018, em comparação com o ano de 2017, a verba da saúde caiu quase R$ 6 milhões, o que, para o vereador, é falta de gestão e de planejamento estratégico.

De acordo com Professor Elinho, o Conselho Municipal de Saúde, em 2016, divulgou um relatório tecendo fortes críticas à saúde de Cariacica, que desencadeou uma investigação denominada Moxuara, que corre sob sigilo de Justiça. O relatório provocou diversas denúncias sobre as questões do setor e sobre obras e reformas de unidades de saúde que não aconteceram. Os problemas da saúde na cidade também desencadearam a CPI da Saúde, mas que só obteve a assinatura de dois vereadores, o próprio Elinho e Sérgio Camilo (PSC), e, por isso, não deverá encaminhada à Prefeitura.

Tido como um dos grandes trunfos para mudar a realidade da área na cidade, o Hospital Geral de Cariacica é, segundo o edil, “um grande conto da carochinha”. Ele acredita que a promessa não deverá ser cumprida em um futuro próximo. Elinho afirmou que uma das grandes dívidas das administrações que passaram por Cariacica e pelo Estado é dar ao cariaciquense um hospital, visto que é um dos dois únicos municípios da Grande Vitória que não possui este tipo de instalação, mas considera que fazer propagandas sobre o assunto, em ano eleitoral, não passam de medidas eleitoreiras que não deverão ser alcançadas em curto prazo.

Mato, sujeira e buraco
“Essa é a realidade. Cariacica está esburacada por causa da má gestão”, disse Professor Elinho. Segundo ele, a imagem de “terra arrasada” – tática de guerra que consiste na destruição de um determinado local – que Cariacica vive é culpa da falta de planejamento por parte da administração do prefeito Juninho e, para o parlamentar, a prova disso é a queda no orçamento de diversos setores de primeira necessidade, como saúde, educação e assistência social.

Em meio a grande quantidade de buracos nas vias do município, a Secretaria de Infraestrutura de Cariacica, responsável pela operação tapa-buracos, mesmo com o aumento do orçamento no ano de 2018, alega que possui poucas equipes para realizar o serviço. Já para Elinho, a secretaria é usada de forma politiqueira e “está a serviço de alguns”. Ele alega que a repartição é “uma das mais desordenadas e sem planejamento” e que, por não possuir uma gestão adequada, deixa o número de buracos crescer.

Município ao deus-dará
O vereador Professor Elinho fez questão de reiterar que Cariacica está esquecida, tanto por lideranças municipais, quanto por estaduais. Para ele, os deputados estaduais que são da cidade deixaram de fiscalizar e pouco olham pelos sofrimentos que o município passa. Já a administração municipal diminui o orçamento de algumas áreas em quase 100%.

Elinho acredita também que a questão da educação seja grave: “Temos escolas que ainda não tem professor, que não tem cuidador para as crianças especiais, que não tem pedagogo, que mandam as crianças de volta para casa porque não tem aula”, afirmou.

Impeachment do prefeito
Composto de uma peça de quase 800 páginas que focam em três questões – a contratação indevida de uma empresa, a saúde do município e o repasse de dinheiro da Prefeitura para a Câmara de Vereadores (chamado de duodécimo) – o processo de impeachment do prefeito Juninho chegou a ser traçado no mês de abril deste ano, em um movimento político encabeçado pelo vereador Sérgio Camilo (PSC). Para Elinho, “Cariacica é um desgoverno e este é o retrato da administração de Juninho”.

Segundo o professor, os assuntos tratados são questões sérias e de responsabilidade pessoal do prefeito. Ele acredita que a peça do impeachment é contundente, porém só possui duas assinaturas, dele e de Sérgio Camilo, porque o prefeito tem maioria na Câmara. No dia 23 de abril, em entrevista a ESHOJE, o vereador Camilo informou que o pedido estava sendo preparado, mas até agora não foi protocolado.

Quando foi indagado se o vice-prefeito de Cariacica, Nilton Basílio, seria capaz de assumir a administração da cidade, Elinho afirmou que o conhece pouco e que sabe que Basílio é advogado de carreira, mas que não sabe de sua experiência administrativa.

Trabalho na Câmara
“O principal papel do vereador é criar leis e fiscalizar, e tenho exercido isso com propriedade. Mas o prefeito tem maioria e muitas vezes a fiscalização que a gente faz para dentro da Câmara não ressoa no conjunto da casa”, disse Professor Elinho. Mesmo assim, ele afirmou que não se sente enfraquecido dentro da casa legislativa, e que cumpre seu papel.

O parlamentar declarou que não vai se tornar “um mini-prefeito” e que seu mandato, voltado para os direitos humanos e para a defesa da vida, continuará a ser desempenhado com prioridade. Um projeto de lei, de autoria de Elinho, que pede a contratação de profissionais de libras nas escolas para facilitar o processo de aprendizagem, chegou a ser aproveitado integralmente pela Prefeitura.

Aumento da verba de gabinete
No mês de maio, um projeto de aumento da verba de gabinete foi aprovado na Câmara dos Vereadores de Cariacica e recebeu críticas do parlamentar. Segundo a proposta, o objetivo era adequar os cargos de chefe de gabinete que estavam fora da estrutura da casa, porém o valor total do aditamento chega a mais R$ 1 milhão por ano.

Para Elinho, que votou contra, o momento não era propício para o aumento de verbas, por conta dos inúmeros problemas do município. Segundo o vereador, ele não vai usar o valor nem nomear nenhum cargo.

Professor Elinho afirmou que não vai se candidatar a deputado estadual nas eleições de outubro deste ano e que também não possui mais pretensão eleitoral. Ele, que é contrário à reeleição, acredita que os mandatos deveriam ser maiores. “Quero cumprir meu mandato de forma grandiosa e resiliente e não tenho pretensão de candidatura a nenhum pleito nem à reeleição em 2020”, declarou.

Por Pedro Cunha ([email protected])