Dólar Em alta
4,998
28 de março de 2024
quinta-feira, 28 de março de 2024

Vitória
27ºC

Dólar Em alta
4,998

As penas da antiguidade

         Hoje faremos um exercício de imaginação. Feche seus olhos, respire fundo e faça, mentalmente, uma viagem rumo ao passado. Nosso objetivo será registrar as penas cruéis e degradantes que a humanidade aplicava aos condenados durante o século I – há uns dois mil anos, pois.

         Vamos começar pela cidade de Mashhad. Contemple a cena de dois ladrões sendo carregados à força. Aguardando-os, um carrasco com um pequeno machado às mãos. Um a um, seus dedos das mãos – todos eles – vão sendo amputados, como punição pelo mal que causaram.

         Ali perto, na cidade de Jizan, um outro ladrão encontra a morte, sob a forma de decapitação. Em seguida à execução, sua cabeça é descartada, e o corpo, crucificado. A cruz é, então, conduzida até uma praça da cidade, onde ficará em exposição pública durante três dias, para que toda a população contemple a aplicação da justiça.

         Enquanto isso, em Tarragona, um outro condenado, acorrentado a uma cadeira, tem colocado em seu pescoço um colar de ferro – que vai sendo apertado, pouco a pouco, pelo carrasco. Lentamente, vê a morte chegando de uma das formas mais cruéis possíveis.

         Há registros históricos de que também passou pela experiência da morte lenta e dolorosa um condenado de Fenix – segundo consta, o dito cujo agonizou ao longo de duas horas nas mãos de seus carrascos, antes de exalar seu último suspiro.

         Agora, vá a Tabqa. Passará por você uma mulher, sendo empurrada por alguns guardas. Considerada adúltera, ela vai enfrentando uma “via crucis” até um pequeno areal. Um buraco é cavado para que seu corpo nele seja enfiado, ficando apenas a parte superior de fora. Uma pequena multidão, então, passa a apedrejá-la impiedosamente, até que morra.

         Sua próxima escala será em Shahpur Chakkar, para acompanhar o cumprimento de uma pena de decapitação imposta a duas outras mulheres, acusadas de flerte. Aproveite e presencie a lapidação de diversas outras – morrerão apedrejadas por terem recusado um casamento.

         Não muito longe dali, em Jeddah, outros dez ladrões vão sendo mortos, um a um, através de golpes de espada desferidos pelo carrasco. Mas nem tudo é tristeza: vá a Kabul, distante 40 dias de camelo dali, e veja uma multidão estimada em 30 mil pessoas alegremente aglomerada em uma arena, mais ou menos do tamanho do famoso Coliseu romano. Os condenados vão chegando, às dúzias – uns terão as mãos amputadas, outros serão chicoteados, e mais alguns tantos morrerão, tudo para o deleite dos ávidos espectadores.

         Ao passar por Cheptobon, pare na praça central para ver condenados sendo chicoteados na presença da população – o crime deles foi vender uma bebida fermentada parecida com cerveja.

         Finalmente, aproveite a viagem e visite uma masmorra “daqueles tempos”. Contemple os presos amontoados em uma pequena arena, cercada por altas muralhas. A alimentação é jogada lá do alto, como que para animais. Buscando proteção contra o frio, dormem encostados uns nos outros – como animais. Fazem suas necessidades em um canto qualquer – como animais. Aos poucos, vão adoecendo e morrendo.

         Tenho uma confissão a fazer: ao iniciar este texto, “preguei-lhe uma peça”. A viagem sugerida, em verdade, não é no tempo, mas apenas pelo espaço. Eu já vivia, e já era até bastante crescido, quando cada um dos episódios acima aconteceu – e vejam que sequer à velhice cheguei! Em tempo: a cidade de Mashhad fica no Irã, Jizan e Jeddah na Arábia Saudita, Tarragona na Espanha, Tabqa na Síria, Kabul no Afeganistão, Shahpur Chakkar no Paquistão, Fenix nos EUA, Cheptobon no Quênia – e a masmorra, aqui no Brasil.

         Que tal, contemplando estes exemplos, pensarmos no quão pouco evoluímos, enquanto seres humanos, ao longo dos últimos dois mil anos?

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas