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As emergências e a era digital

         Dia desses tive a oportunidade de ler sobre um interessante relatório, produzido no Reino Unido, acerca da modernização do sistema de atendimento dos serviços de emergência daquele país – o nosso popular “190”, que lá é acessado pelo “999”.

Um dos seus autores, o Professor Will Stewart, iniciou o documento alertando para o fato de que as comunicações mudaram drasticamente desde que este serviço foi concebido, nos idos de 1937.

Em seguida, lançou alguns casos perante os quais o mesmo, por clara deficiência tecnológica, simplesmente é falho. “Imagine”, disse ele, “uma mulher em um coletivo que comece a temer por sua segurança. Por motivos óbvios, ela não poderia fazer uma chamada a partir de seu celular. Mas poderia enviar uma mensagem de alerta”.

Prosseguiu ele: “Nos casos de sequestro ou arrombamento, uma mensagem silenciosa de alarme seria infinitamente mais apropriada e instintiva que o atual sistema baseado em voz – e isto independentemente da idade da vítima”.

Acrescentou: “Os atuais serviços de emergência poderiam ser aperfeiçoados através do uso da tecnologia de GPS”, presente na maioria dos telefones celulares das potenciais vítimas – os cidadãos.

E: “Um telefone celular pode fornecer muitas informações sobre a vítima. Primeiramente, reportando a localização da mesma, bem como transmitindo os sons do ambiente e até mesmo eventuais imagens através de sua câmera.

Igualmente abordou-se a questão, não menos real, das vítimas que sejam surdas, mudas ou tenham dificuldade de falar – todas, atualmente, deficientemente contempladas.

No que toca aos casos de emergência médica, acentuou-se a possibilidade, fascinante, de já serem transmitidos automaticamente todos os dados da pessoa a ser atendida, inclusive seu histórico de saúde – algo tão fácil de ser feito, e com potencial de salvar muitas vidas.

O relatório registra, finalmente, a necessidade de uma atualização urgente dos sistemas de atendimento, ponderando ser esta plenamente possível, pois que toda a tecnologia necessária já existe, e não é assim tão cara – aliás, tal modernização poderia até mesmo gerar economia, dadas as possibilidades de racionalização dos serviços prestados.

Esta iniciativa, por si só, já seria notável. Fico a pensar em suas possibilidades, e chego a espantar-me com o que poderíamos alcançar em termos de economia, eficiência e, principalmente, redução de sofrimento humano.

Porém, algo não menos relevante veio em seguida: o governo e as empresas de telecomunicações discutirão a modernização do sistema de forma integrada, com a polícia, o serviço de ambulâncias e o corpo de bombeiros. Sabe por que? Veja só: “Sem uma estratégia unificada, seria fácil para cada instituição criar suas próprias plataformas e inundar o público com opções em demasia”, causando dificuldades tanto na utilização como na atualização das tecnologias utilizadas.

Está aí, nesta disposição tão simples e lógica, uma lição notável: o fim do “meu aplicativo”, dos “meus dados”, do “meu setor”, da “minha autoridade”, da “minha competência”, e de tantas outras miopias que afetam a esmagadora maioria da administração pública pelo planeta afora.

Agora, olhe pela janela de sua casa. Contemple a imensa quantidade de registros, cadastros, bancos de dados e sistemas existentes – que, inacreditavelmente, não “conversam” entre si em pleno século XXI! Perceba que, com um pouco mais de boa vontade e espirito público, a humanidade poderia estar muito à frente em termos de administração e gestão, economizando fortunas e poupando vidas.

Enquanto isso, seguimos firmes naquela acusação do jornalista francês Émile de Girardin: “todos falam de progresso, mas ninguém sai da rotina”.

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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