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“As associações nos prejudicaram”, revelaram as mulheres dos PMs

protesto_pmes_mulheres-217266Tudo começou na manhã do dia 3 de fevereiro, com quatro mulheres e filhas de policiais militares que protestaram contra o Governo do Espírito Santo impedindo a saída de agentes e viaturas do Destacamento da Polícia Militar (DPM) do bairro Feu Rosa, na Serra. Segurando cartazes, elas reivindicavam melhores condições de trabalho para seus pais e maridos. Mal sabiam elas que, em menos de 24 horas, familiares de outros policiais, movidos pelo mesmo sentimento de descaso do Estado para com seus parentes, reproduziriam a ideia em todos os outros batalhões do Estado, paralisando a atuação de quase 10 mil homens. Também não passava pela mente delas a eclosão da maior crise de segurança pública do Estado dos últimos tempos, sendo noticiada em todo o Brasil e nos principais jornais do mundo.
Foram 22 dias que ficarão na história do ES, tanto pela violência e selvageria à qual o Estado foi submetido, quanto pela coragem dessas mulheres em lutar por melhores condições de trabalho por seus maridos, mesmo tendo governo e parte da opinião pública imputando a violência a elas. Mas também ficará marcada pela falta de habilidade do Governo do Espírito Santo em resolver uma questão que teve sua raiz no descumprimento da Constituição (Artigo 37, inciso X) pelo próprio Executivo, ao não promover a correção inflacionária do funcionalismo público capixaba nos últimos três anos.
Sobre os bastidores da grande crise na segurança pública, representantes do movimento desmistificaram diversos fatos relatados pelas principais mídias do Espírito Santo e que acabaram comprometendo o movimento frente à opinião pública estadual e nacional. Uma das representantes do movimento, que não quis ser identificada, afirmou que ele nada teve de político, foi completamente espontâneo, e que um dos pontos fracos foi justamente a falta de organização gerada por essa espontaneidade.
Início
“No início foram quatro mulheres com cartazes na porta da companhia de Feu Rosa e depois chegaram mais duas. Tinham feito contato com a imprensa para avisar do ato, mas ninguém tinha noção da proporção. Era só para mostrar a nossa insatisfação para o governo e para a sociedade, que estávamos cansadas daquilo. O estopim de tudo foram as condições de trabalho, atreladas às condições de salário, defasados diante da inflação. Tudo partiu de nós. Queríamos ser ouvidas, pois sabíamos que eles não podiam parar”, disse uma das representantes, mãe e tia de policiais.
Outra representante, esposa de um policial, e que estava no início do movimento, completou: “Você vê marido saindo pra trabalhar todos os dias colocando a vida em risco com coletes vencidos, quando tem, arma que não sabe se funciona, viatura faltando combustível e pneus carecas… Vê que pessoa está com medo. Vemos nossos esposos chegando revoltados, agressivos dentro de casa, depressivos… e a mídia não mostra que a maioria dos nossos policias são deprimidos. Hoje chamaria o quartel de Fábrica de Loucos, porque os que não se aposentam pela idade, se aposentam com problemas psicológicos”.
O movimento teve erros, admitem
As representantes do movimento dos familiares dos policiais militares aceitaram conversar com a reportagem de ESHOJE sob o compromisso de não serem identificadas. Elas admitiram que houve erros. O primeiro, afirmam, foi a falta de uma liderança. “Houve várias vozes querendo falar a mesma coisa de formas diferentes. E o governo atacou isso, dizendo que nós não nos entendemos. Entendemos sim! O objetivo é o mesmo. O primeiro erro é que nós nãos nos mobilizamos antes para fazer esse movimento, não nos reunimos. Queríamos ser ouvidas, nem que fosse dar uma solução a longo prazo”, relata a mãe de um PMES.
De acordo com a esposa de outro, para a primeira reunião entre representantes do Governo e o novo comandante da Polícia Militar, coronel Nylton Rodrigues, realizada dia 7 de fevereiro, foram escolhidas pelo comandante, mulheres aleatórias que estavam à frente dos batalhões. “Foram no batalhão e falaram ‘o comandante quer falar agora, vem você e você’, e foram colocadas de forma aleatória. Foram pegas duas mulheres do Quartel, duas do BME e uma pessoa que por acaso tinha ido ao BME. ‘Ou vêm logo ou vão perder’. Eles nunca permitiram que houvesse uma organização”.
Sobre os militares que foram apontados pela Corregedoria da PM como os “por trás do movimento” e que estão presos – Capitão Assumção, soldado Maxson Luiz da Conceição e o ex-PM Walter Matias Lopes – as representantes afirmaram que apareceram em um ou outro momento para serem solidários ao movimento, mas não tiveram influência na direção do movimento. “Em momento nenhum o movimento conhece os nomes citados como líderes. Querem caracterizar nosso movimento como político e nosso movimento é inteiramente familiar”.
Política nas associações
As familiares afirmaram, ao contrário do que muitos pensavam, que as associações, sobretudo a de Cabos e Soldados da Polícia Militar (ACS) e a de Sub-Tenentes e Sargentos (Asses), além de não terem ajudado o movimento, ainda o prejudicou.
“Hoje, se temos uma comissão desconsiderada pelo governo, foi pela ACS. Quando viram a proporção do movimento, entraram com um suposto apoio, com água, com o mínimo, para dizer que estavam conosco”.
Segundo as mulheres do movimento, na reunião que durou 11 horas, realizada dia 9 de fevereiro, os representantes das associações manipularam as pautas, que não condiziam com as reivindicações do movimento das mulheres. “Nós queríamos melhores condições de trabalho e correção salarial, e eles pediam anistia para as associações. Naquela reunião de 11 horas descobrimos que estávamos sozinhas mesmos. Só ficamos 12 horas por causa das associações, porque a primeira pauta foram as multas que aplicariam a eles. Então quando foi falado na questão da multa o tempo todo manipulavam e falavam para nós, ‘vai rolar muito sangue e esse sangue vai ficar nas costas de vocês’. Foi quando batemos de frente com os advogados, e falamos que as associações não representavam a gente. Temos dentro da associação candidatos que vêm em 2018, tinha muita questão política”.
Elas revelam que devido às manipulações realizadas pelas associações, dotadas de advogados, e após os movimentos do comando da PM e do Governo, no intuito de penalizar os policiais administrativamente, a pauta do movimento passou a não mais ser a correção salarial, mas a anistia administrativa dos policiais. “Tínhamos PMs que seriam penalizados, então queríamos acabar com aquilo porque não era nossa intenção prejudicar nossos familiares. O estado tem que arcar com tudo inclusive com as mortes que imputam ao movimento”.
Movimento se organiza para reunião com o MPES
Quando tudo parecia que ia caminhar para uma solução, após acordo entre o Governo do Estado e o movimento que pôs fim na paralisação dos policiais militares – dentre os principais pontos estava a não instauração de novas punições administrativas – no dia 25 de fevereiro, eis que o governador Paulo Hartung envia em caráter de urgência nesta terça-feira (7) o Projeto de Lei Complementar (PLC) 4/2017, que foi aprovado no dia seguinte por 20 votos contra sete.
Uma das pautas do projeto é extinguir a fila de policiais que aguardam promoção. Essas promoções passam ter como base a meritocracia. Na mensagem do governador o objetivo é modernizar os critérios de promoção.
Para o movimento dos familiares e para alguns deputados, a medida trata-se de vingança contra os policiais militares envolvidos na paralisação, assim como a extinção da Rotam e do BME. O próximo passo delas é uma reunião com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), marcada pelo próprio órgão para o dia 27 de março no intuito de mediar a situação entre Governo e o movimento. “Perdemos uma batalha, mas não a guerra”, afirmou a mãe, que não quis adiantar detalhes sobre o que estão preparando.

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