A colonização europeia foi responsável por impor o projeto de civilização cristã, branca e cisgênera às custas do extermínio e o silenciamento de inúmeros povos que aqui já habitavam, bem como a mutilação de muitos outras culturas que para cá foram trazidos da África como mão de obra escrava. Trata-se de um trauma sócio-histórico responsável por adoecimentos do Brasil contemporâneo manifestados através do racismo, do machismo e da LGBTfobia.
Da encruzilhada entre os campos da arte, da psicologia e do curandeirismo, a exposição O Trauma É Brasileiro é a primeira individual de Castiel Vitorino Brasileiro e põe o dedo ao mesmo tempo que propõe um alívio temporário dessa chaga civilizatória brasileira e latino-americana.
Aberto à visitação a partir desta terça-feira (11), na Galeria Homero Massena, no Centro de Vitória, esse trabalho contará com a atualização da instalação Quarto de Cura e com atendimentos individuais, aos modos das benzedeiras, entre a artista e o público. Como uma insurgência decolonial surgida a partir da reconstrução do laço ancestral Bantu, a exposição denuncia como o apagamento da diferença, a imposição de um modelo cultural e o racismo fundaram a sociedade brasileira e vai além: compartilha com o público a investigação da artista em busca da cura do trauma racista e LGBTfóbico.
Além das visitações e dos encontros clínicos com Castiel, a exposição contará com uma mesa de conversa e com o lançamento de um catálogo que acontecerão no mês de julho. Grupos também poderão fazer visitas guiadas mediante agendamento prévio. Quem assina o projeto de arte educação é a artista e doutora em Educação Kiusan Oliveira. O Trauma É Brasileiro conta com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 019/2018 – Seleção de Projetos de Exposições de Artes Visuais.
Uma clínica efêmera para uma cura perecível
O Trauma É Brasileiro propõe uma experiência de cura e parte de uma cartografia que Castiel tem feito no Morro da Fonte Grande, no Centro de Vitória – comunidade onde a artista nasceu e passou a infância com a família. Nessas visitas, seja presencialmente ou por meio do acesso a algumas memórias, ela tem atualizado os saberes Bantu que organizaram o modo de vida aquilombado de seus familiares. O Quarto de Cura, instalação que já havia sido apresentada ao público em outros dois momentos, reúne obras criadas desde julho de 2018 a partir das investigações da história familiar da artista e de registros de suas andanças por esse território temporal e geográfico: são fotografias, textos, mandingas, indumentárias e outros objetos.
Graduanda do 9º período de Psicologia da Ufes, Castiel recorre a diferentes fontes de saber e equivoca as bases epistemológicas que orientam clínica psicológica tradicional ao tratar de algo tão complexo como a cura de traumas brasileiros. Sua poética evidencia como adoecimentos corpóreos estão sendo produzidos por demandas sociais que são brasileiras. “Quando digo que há um trauma que é brasileiro, faço um convite à psicologia a pensar os adoecimentos produzidos no Brasil. Essa é uma responsabilidade que a psicologia se recusa a aceitar, tampouco pensa de modo referenciado nos processos de subjetivação brasileiros e latino-americanos”, explicou.
Exposições Coletivas
“Davisuais”, Galeria de Arte e Pesquisa, Vitória/ES (2016);
“Corpo expandido”, curadoria de Natalie Niredia Aliança Francesa, Vitoria/ES (2016);
“Degelo Tropical”, I Fórum Acadêmico de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES (2017);
“Ca Entre Nós”, curadoria Neusa Mendes, Hilal Sami Hilal e Tom Boechat. OÁ Galeria – Arte Contemporânea/ES (2017);
“Davisuais”, Galeria de Arte e Pesquisa da UFES, Vitória/ES (2017);
“Territórios Internos”, curadoria de Natalie Miredia, Casa Porto de Vitória, Vitória/ES (2018);
“Malungas”, Museu Capixaba do Negro. Curadoria de Rosana Paulino. Vitoria/ES (2018);
“VER O INVISÍVEL, DIZER O INDIZÍVEL”, no Valongo- Festival Internacional da Imagem. Curadoria de Tarcísio Almeida. Santos/SP. (2018);
In.corpo.rar: exposição viva. Galeria do Centro de Artes UFF. Curadoria de Carolina Galhardo, Leticia Santana, Morgana Côrtes, Talí Ifé, Tatiana Nunes. Niteroi/RJ (2018);
“Atos de Mover”, no Centro de Artes e Comunicação – CAC/UFPE. Recife/PE (2019) ;
“Aqui foi o Quilombo do Pai Felipe”, exposição virtual no site Buala.org. Curadoria de Jota Mombaça. disponiível em http://www.buala.org/pt/galeria/aqui-foi-o-quilombo-do-pai-felipe 2019
“Matrix Colonial”, Cartel 011. Curadoria de Projeto Dudús. São Paulo/SP (2019).
“Experiências Ímpares”, Virgínia Tamanina. Curadoria de Felipe Lacerda e Rosana Paste. Vitória, 2019
Ações/ ocupações/instalações
“Experiências de Jardins”, feita junto com a artista Kim Cavalcante, no durante a imersão Afrotanscendence. São Paulo/ SP (2016)
“Novos Ancestrais”, feita junto com os artistas Iwintolá, Janaina Barros, Rincón Sapiência e Thiago Miranda, durante a imersão Afrotanscendence. São Paulo/SP (2016);
“Ode à bixa-preta” realizada na 1º Marcha do Orgulho Crespo de Vitória. Vitória/ ES (2017);
“COMO SE PREPARAR PARA A GUERRA”, realizada no I Seminário Afronta – Compartilhando Saberes e Afetos. Museu Capixaba do Negro. Vitória-ES (2017);
“Performance Bixa Preta – Manual de usos da cidade”, Coletivo Kuirlombo, Semana de Diversidade de Ouro Preto. Ouro Preto-MG (2017).
“Espelho”, lançamento do livro Bonde, do poeta Janio Silva. Realizada no Museu Capixaba do Negro. Vitória/ES (2018);
“Quarto de cura”, no Morro da Fonte Grande. Instalação realizada dentro da casa de Renato Santos, no Morro da Fonte Grande, em Vitória. Experiência realizada 15/12/2018 à 11/01/2019.
Imersões e Residências Artísticas
AfroTranscendece. Curadoria de Diane Lima. São Paulo/SP (2016);
CAPSULA” . Vitória/ES (2017);
Residência Artistica Fabrica.Lab”, com curadoria de Franz Manata. Vitória/ES (2017);
Residência no ateliê de artista Rosana Paulino. São Paulo/SP (2018);
Programa de Residência do Valongo – Festival Internacional da Imagem, https://valongo.com/projeto-valongo. Curadoria de Diane Lima e Tarcísio Almeida. Santos/SP (2018).
Curso Estéticas Macumbeiras na Clínica da Efemeridade
Turma 01: Universidade Federal do Espírito Santo, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Subjetividade e Política.15 horas. Vitória/ES. 2019
Turma 02: Colabirinto, em parceira com Lastros – Grupo de Estudos. 9 horas. São Paulo/SP. 2019
Serviço:
Exposição O Trauma É Brasileiro, de Castiel Vitorino Brasileiro
Galeria Homero Massena
De 11 de junho até 24 de agosto de 2019
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, nº 99 – Cidade Alta, Centro de Vitória, Vitória – ES
Entrada Franca!
Abertura
11 de junho, às 19h
Visitação
De 12 de junho até 24 de agosto de 2019
de segunda a sexta-feira, das 9 às 18h, sábado, das 13 às 17h.
Visita de grupos
Mediante agendamento com a equipe da Galeria Homero Massena
(27) 3132 8395 / [email protected]
Experiências Clínicas
Mediante agendamento com a artista
(27) 997 395 420 / [email protected]
Mesa de Conversa com a artista
02 de julho, às 19h
Lançamento do Catálogo da Exposição
23 de julho, às 19h