Emancipado no dia 24 de janeiro de 1891, Alfredo Chaves sempre foi muito conhecido pela produção de banana e leite. É também o destino ideal para quem quer se encantar com cachoeiras e montanhas. Porém, as comemorações de seu aniversário neste ano serão marcadas pela solidariedade. Uma grande rede de voluntários leva mantimentos às 1107 vítimas das chuvas da última sexta-feira (17).
Só do último sábado (20), o ponto de coleta de donativos na Assembleia Legislativa do Espírito Santo recebeu quase 30 toneladas de produtos que incluem alimentos, água, roupas de cama, sapatos e itens de higiene pessoal. O município de 13.955 habitantes foi completamente tomado por lama e destruição, com 90% da sua área afetada.
Quem mora por lá conta que foi surpreendido pelo grande volume de chuva. “A água subiu muito rápido, só deu tempo de salvar a própria vida, e a de quem estava comigo. Somos em seis pessoas, ficamos sem nada”, declarou o atleta Rafael Olioza, 29. Ele e a família moram em Alfredo Chaves há dez anos, e dizem nunca ter visto nada parecido.
A tragédia repentina assustou todo o Estado. Raphael Ribeiro fez parte de um grupo de voluntários que foi até o local. “Nós da Igreja Batista de Guaranhuns, em Vila Velha, juntamos um caminhão de doações. O que vimos foi uma tragédia completa, muita gente realmente sem nenhuma esperança de recomeço. Porém, a quantidade de pessoas que estava ajudando, revigorou a mim e aos moradores. Tenho certeza”, disse.
Muitos se ofereceram também para prestar serviço. Marmitas, distribuição de água, limpeza das ruas. Prefeituras como a de Anchieta e Guarapari, enviaram efetivos para ajudar quem precisa.
E foi de Guarapari que veio a ajuda de Elaina de Oliveira, 38. A moradora conta que os amigos do município a ajudaram a limpar o que restou da casa. “Quem tem amigos, tem tudo. Se não fosse um caminhão pipa particular que um amigo conseguiu para mim, estaria sem água até agora. É bom que a gente tenha com quem contar. Pude limpar minha casa até primeiro que meus vizinhos, e ajudá-los também. Agora só podemos contar uns com os outros”, disse.
O professor, publicitário e digital influencer Wallace Aranha também se mobilizou. Em suas redes sociais, Wallace postou fotos e vídeos de Iconha e Alfredo Chaves, e sobre a sua ida ao município, disse: “Não é sobre fazer o impossível, e sim o que se encontra dentro da sua possibilidade. O mundo melhor que desejamos começa com nossas atitudes, com nosso posicionamento de ser indivíduos melhorados”.
Pontos turísticos, prédios de órgãos públicos e vias que já viram passar manifestações culturais típicas do município como a festa do congo, o coral italiano e a moda de viola, deram lugar à lama. “Não temos muito o que comemorar na data do nosso aniversário. Um município com tanto agora se vê sem nada. Mas nos restou o apoio de outras pessoas, que já é muito. O bonito disso tudo é o coração calmo em saber que ainda tem gente boa no mundo”, disse Olioza.
A festa da cidade
Devido ao estado de Calamidade Pública, decretado pelo prefeito, Dr. Fernando, em virtude da enchente, as festividades foram canceladas. Os trabalhos, segundo a prefeitura, se concentram na limpeza das ruas, atendimento á população e no restabelecimento de serviços básicos.
Situação do município
Além das 1107 pessoas desalojadas e desabrigadas, uma residência foi soterrada no distrito Cachoeirinhas, na sexta-feira (17). Também na sexta a primeira morte foi registrada, devido a um deslizamento de terra que atingiu uma casa. Segundo a Defesa Civil, 17 pontes danificadas ou destruídas no município. Tais pontes ligam estradas vicinais às comunidades.
15 comunidades estão isoladas: Boa Vista, Recreio, São João, São Vicente, São Joaquim, Piemonte, Ipê Açu, Santa Luzia do Ipê, Vila Nova de Maravilha, São Brás, Alto Maravilha, Três Cruzes, Quarto Território, Santa Luzia e São Gabriel com acessos interrompidos. O setor de obra e agricultura está atuando para a desobstrução das vias.
Uma represa na região de fazenda velha está com risco de rompimento. Ela está localizada entre São Vicente de Crubixá e Ipê. A Agencia de Recursos Hídricos (AGERH) está em conjunto com a defesa civil para vistoriar o local. Uma via em Cachoeirinha (local do soterramento) está instável, com risco de novos deslizamentos.
A ponte Feliciano Garcia, que liga o Centro ao bairro Imigrantes, foi arrastada pela correnteza. A tempestade também provocou o transbordamento do Rio Benevente, que alagou ruas, destruiu casas e provocou três mortes na cidade.
