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Alcoolismo: uma guerra diária, que pode levar à morte

Alcoolismo: uma guerra diária, que pode levar à morte“Há mais de 20 anos não bebo mais. A luta contra o primeiro gole é diária. É um dia de cada vez”. Este é o depoimento de um membro dos Alcoólicos Anônimos (AA) de Vitória, que convive com a síndrome de dependência devido ao uso do álcool, ou o popular alcoolismo, classificado na CID (Classificação Internacional de Doenças) com o número F10.2. Muitos não sabem, mas o alcoolismo é uma doença crônica e que pode levar à morte.

Este foi o caso do casal que frequenta um grupo de Al-Anon (grupos formados por familiares e amigos de alcoólicos) em Vitória. O consumo abusivo do álcool por seu marido teve como consequência uma cirrose que o levou a óbito. “Ele foi um alcoólico ativo durante 20 anos. Veio a doença, mas quando ele começou a frequentar os grupos já era tarde”, conta.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de que, em todo o mundo, três milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool, representando 5,3% de todas as mortes. Além disso, o uso nocivo de álcool é um fator causal para mais de 200 doenças, como é o caso da cirrose e lesões.

Um fato em comum a muitos dos alcoólatras e que grande parte vêm de famílias com histórico de alcoolismo ou com tolerância ao uso da substância. “Os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas são família, comunidade, amizades, escola e indivíduo. Cerca de 70% dos alcoólicos têm alcoolistas no seu histórico familiar. Filhos de alcoolistas são mais tolerantes ao álcool em comparação com filhos de não alcoolistas. Além do abuso pelos pais, a família destaca-se como fator de peso na probabilidade do uso pelos filhos também pelas atitudes favoráveis dos pais ao uso do álcool pelos filhos”, explica o professor doutor Elizeu Borloti, do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Fatores e doses
O psiquiatra Fernando Furieri endossa a afirmação e explica que os fatores ambientais são mais preponderantes para o vício em álcool do que os genéticos. Ele conta que cerca de 10% das pessoas que usam álcool de tornam dependentes da substância.

“Falamos de uma classificação que leva em conta o uso esporádico, abusivo/nocivo e a dependência. O uso nocivo é que uma pessoa toma pelo menos três doses por dia ou 10 doses no fim de semana. Depois do uso nocivo, alguns vão entrar na síndrome da dependência, que é um forte padrão obsessivo compulsivo no qual a pessoa deixa de realizar atividades, inclusive prazerosas, para ficar bebendo. Se não o fizer, apresenta sintomas de abstinência, começa a tremer, passar mal, delirar e necessita das doses para retomar seu ‘equilíbrio’. O uso nocivo é problemático. Se você fala para essa pessoa parar de fazer o uso nocivo e ela não consegue, trata-se de dependência, que é uma doença”, esclarece.

Alcoolismo: uma guerra diária, que pode levar à morte
Foto de Bárbara Greco

“Achei que estava curado”

Marcus Vinícius Soares, 38 anos, cresceu acompanhando o alcoolismo do pai e começou a ingerir a substância aos 12 anos de idade. “Foi amor ao primeiro gole”. Após anos de uso abusivo, perdeu o controle aos 23, quando era empresário do setor de hotelaria e entretenimento no Norte do Espírito Santo. Foi quando decidiu procurar ajuda em um grupo de AA (Alcoólicos Anônimos) em sua cidade.

“Nesse grupo conheci o que era sugerido para me manter sóbrio e feliz”, conta ele. Durante seis anos ele conseguiu ficar longe das doses. “Estava muito bem fisicamente, financeiramente reestruturado, e achei que não precisava mais frequentar as reuniões. Me senti autossuficiente, o ego subiu e achei que a minha vida estava sob controle. Voltei a ingerir álcool, gerenciei por um tempo, mas depois me afundei com tudo novamente durante oito anos. Mais uma vez fiquei falido, desmoralizado, sem perspectiva”, lembra.

Foi quando encontrou um amigo de infância, um pastor, que viu sua situação e o levou para uma unidade da Cristolândia, projeto voltado para a recuperação de adictos. “Me estenderam a mão e lá fiquei um ano e um mês. Estou limpo e sou muito grato pela oportunidade de recomeçar e não errar de novo”.

Outro que vence essa batalha diariamente há 20 anos é um dos voluntários de 60 anos, que hoje trabalha em prol da fraternidade Alcoólicos Anônimos (AA) no Espírito Santo. Ele conta que sua relação com o álcool começou por causa da timidez, que era grande. “Naquela época a gente dançava agarradinho e eu não tinha coragem de chamar a garota para dançar. Na primeira vez misturei álcool com refrigerante, dancei e me diverti bastante. A partir dali fui tirando o refrigerante e acrescentando mais álcool”, conta ele que viveu na dependência por 15 anos.

O AA chegou ao Espírito Santo em 1972 e hoje conta com 80 grupos que se reúnem com frequência variada (no mínimo semanalmente) espalhados por todo o Espírito Santo. A maior quantidade desses grupos encontra-se nos municípios de Vila Velha (11), Serra (8) e Cachoeiro (9).

Alcoolismo: uma guerra diária, que pode levar à morte
Foto de Bárbara Greco

Quando a família também fica doente

A destruição causada pelo álcool vai bem além da vida da pessoa afetada pelo alcoolismo. Além de todas as consequências físicas e psicológicas, o alcoolismo causa a chamada codependência, quando os familiares adoecem junto com o alcoólico. Neste sentido, surgiram os Al-Anons, paralelos aos AAs, que são grupos de ajuda às famílias dos alcoólicos.

A coordenadora de um grupo de Vitória, explica que há oito anos passou a frequentar o Al-Anon por conta do alcoolismo do marido. “A codependência acontece porque você convive e ama a pessoa, e fica muito ligada no problema da pessoa, sofrendo junto com ela e até mais do que ela. Eu não bebo, mas fico doente junto”, explica.

Ela conta que seu pai era alcoólatra e depois os dois irmãos também viraram. “Eles misturavam álcool e cigarro associados. O que os levou a óbito foi o cigarro”. Ela pensava em não se casar, mas acabou se apaixonando e o marido também tinha problema com álcool. “Ele foi alcoólico ativo por cerca de 20 anos. Veio a cirrose e faleceu. Ele estava frequentando o AA antes do óbito e foi o melhor período de nossas vidas, mas a doença já estava no organismo”.

Ele explica que o grupo a ajudou a lidar com o problema que ela estava vivendo. A metodologia do Al-Anon é semelhante à do AA, também com os 12 passos, mas voltada para os familiares e amigos de alcoólicos.

PROCURE AJUDA

Alcoólicos Anônimos
80 grupos em 38 municípios
Tel: (27) 3233-4000 ou (27) 3223-7268

Al-Anon (grupos de ajuda a familiares de alcoólicos)
10 grupos no Espírito Santo
Tel: 98116-2417

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