Alcoólicos Anônimos completa 81 anos recuperando vidas

“Comecei a beber com 10 anos. Eu trabalhava num bar e o dono bebia uma dose de conhaque todos os dias. Ele dizia que era para abrir o apetite. E eu ficava olhando aquilo e fiquei curioso. Um dia resolvi fazer o mesmo. Como o conhaque é muito forte, misturava com Martini ou tomava outras bebidas de sabor mais doce. Quando eu ia para bailes, como era muito tímido, bebia para desinibir. E bebi até os 35 anos de idade”. Esse é o depoimento do aposentado J.J., (nome fictício), que completa em 2016, 28 anos sem álcool.

“Bebia muito! Perdi o emprego por causa do alcoolismo”, disse. “Eu não sabia que alcoolismo é uma doença. Não admitia que tinha perdido o domínio da minha vida. Se não tivesse parado, hoje estaria morto”, declarou J.J., 66 anos.

Durante os 25 anos que bebeu, J.J. contou que passou por muitos problemas, como perder o emprego, ser preso, aborrecer amigos e parentes. “Quando parei de beber não tinha nem uma bicicleta. Hoje tenho carro, telefone, imóvel próprio”, comemorou.

O aposentando recordou que em 1984, já trabalhando como técnico de telecomunicações em uma estatal por 10 anos quase foi demitido por causa do alcoolismo. Segundo ele, um dia decidiu ir a um baile com uma faca na cintura. O policial viu que estava armado e pediu a arma. “Eu dei (a faca). Já tinha bebido. O policial orientou que eu fosse embora, mas não fui. Eu queria a faca, não aceitava deixar com o policial e pedi várias vezes que me entregasse. Então, fui preso. Ele (o policial) foi legal comigo”, contou. No dia seguinte, os amigos o tiraram da delegacia. A empresa que trabalhava o encaminhou para o departamento social que ofereceu ajuda, informando que deveria tratar o vício ou do contrário corria o risco de ser demitido.

A partir desse ponto tomou consciência de que algo estava errado e precisava mudar. Em 1984 foi a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos (AA), em Vitória, no entanto, teve uma recaída e deixou o grupo. Dois anos depois retornou aos encontros, mas caiu novamente. Voltou sem 1988, agora se reunindo em Jacaraípe, Serra, e desde então está sem álcool há 28 anos.

Segundo J.J., ele só conseguiu se livrar do vício graças ao apoio recebido no Alcoólicos Anônimos (AA). Hoje, ele é responsável por um grupo. “O objetivo da irmandade é transmitir uma mensagem àquelas pessoas que estão sofrendo na guerra do alcoolismo. Falar que alcoolismo é uma doença, e não falta de caráter. E que ela pode ser vencida”, frisou.

Atualmente, existem 44 grupos de AA na Grande Vitória: Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha. No Espírito Santo são 120 grupos. Informações sobre locais de encontro e programação no Estado podem ser obtidas no número 27.3223-7268.

“Muitos chegam ao AA derrotados, sem emprego e sem família”. Muitos já perderam um membro do corpo, como baraço e perna por causa de acidentes”, destacou J.J. Essas são as características de quem procura ajuda. O AA completa nesta sexta-feira (10), 81 anos de existência no mundo. No Brasil, há 5.078 grupos e no Espirito Santo já são 120 grupos, sendo 44 na Grande Vitória.

A irmandade surgiu inicialmente em Akron, nos Estados Unidos da América e teve a sua raiz em 1935. Bill Wilson, um corretor da bolsa de Nova Iorque, e Dr. Bob Smith, um cirurgião de Ohio com um grave problema de alcoolismo, decidiram criar uma comunidade de entreajuda para apoiar os que sofrem deste problema e se manterem eles próprios sóbrios.

No Brasil, começou em 5 de setembro de 1947, no Rio de Janeiro, através de um empresário norte americano. No Espirito Santo, o primeiro grupo foi em Linhares, em junho de 1972.

A irmandade, com carácter voluntário, é de homens e mulheres que se reúnem para alcançar e manter a sobriedade através da abstinência total de ingestão de bebidas alcoólicas. Sem carácter religioso, embora tenha incorporado muitos princípios de diversas religiões, a comunidade recebe pessoas de todas as doutrinas.

Sobrevive financeiramente através dos seus próprios membros que contribuem espontaneamente, não aceita financiamento de fora da irmandade. Alcoólicos Anônimos funciona com base no Programa de 12 passos e fundamenta-se no anonimato de seus membros. A irmandade divide-se em grupos locais, que realizam reuniões regulares nas quais os participantes conversam sobre suas experiências com o alcoolismo e com recuperação da doença. Para ser membro de A.A., o único requisito é ter o desejo de parar de beber.