Gustavo Gouvea – [email protected]
Atualmente o Aedes aegypti é o inimigo número um dos brasileiros, já que, além de ser responsável pelos números recorde de casos de dengue – e mortes em decorrência da doença – também transmite a zika – 5,3 mil casos, três mortes e 508 casos de microcefalia – e chikungunya. Esse quadro já é considerado terrível, mas ele consegue ser pior. Como já se sabe, o mosquito também é ameaça para o melhor amigo do homem. Cães e gatos podem ir a óbito em decorrência da dirofilariose, doença transmitida não só pelo aedes, mas também pelo mosquito culex, que temos aos montes e pelo anopheles.
E os casos têm sido mais frequentes no Espírito Santo, de acordo com veterinários. A partir da picada do mosquito, o verme dirofilaria, contido na saliva dele cai na corrente sanguínea de caninos e felinos e se desenvolve. Em seu estágio adulto, esse verme pode gerar doença cardiorrespiratória grave e potencialmente fatal. E os proprietários não estão a salvos da dirofilariose. A doença é uma zoonose e pode chegar a causar lesões no pulmão humano, como explica o veterinário Alexander Tanure.
“O problema maior é quando a larva morre. Uma vez morta, não tem utilidade e pode parar num vaso, causar obstrução do mesmo, levar à isquemia e até à morte do órgão. No homem os vasos capilares do pulmão são bem estreitos. É zoonótica. Orientamos ao dono que como o animal está como fonte, pode transmitir para ele”, explicou o veterinário, que atende na região 5 de Vila Velha e afirmou que nesta semana teve um caso de dirofilariose diagnosticado em um cão.
Fase adulta
Thiago Oliveira, veterinário responsável pela ONG Amizade é um Luxo, disse que está atendendo três cães que sofrem com dirofilariose. Felizmente os vermes foram encontrados ainda em estágio de larva e não em fase adulta (quando se alojam no coração tendo como única salvação do animal a cirurgia cardíaca), com condições de realizar o tratamento adequado para a retirada do verme.
“É uma doença bem silenciosa, que apresenta sintomas apenas quando está em estágio muito avançado e o cão começa a apresentar deficiência respiratória em função do grande número de vermes na câmara cardíaca. No caso dos cães que acompanho, hemogramas de rotina acusaram a dirofilária. Depois é preciso realizar ecocardiograma para saber em que estágio o verme está. Dos meus pacientes, todos estão em estágio juvenil e estamos tratando”, afirmou Thiago.
O tratamento que ele está fazendo consiste em aplicação de vermicida uma vez ao mês durante seis meses sendo feito um ecocardiograma ao final de cada mês para o acompanhamento.
Tanure confirma que os diagnósticos são feitos a partir de hemograma, e destaca que trata-se de uma doença silenciosa. “Preferimos pagar atendimento de profilaxia do que de emergência. É mais barato prevenir do que tratar”. De acordo com ele, para a prevenção da dirofilariose existem coleiras repelentes e também o uso de remédios de verme para impedir que o mesmo se desenvolva.
Melissa na luta contra o verme
Melissa é uma cadela vira-lata, “filha” de Yara Guimarães, presidente da ONG Amizade é um Luxo, está na luta contra a dirofilariose. Ela conta que, no mês de janeiro a cadela foi diagnosticada com o verme e desde então vem fazendo o tratamento com vermicida. “Ela não tinha aparência de estar doente. Estava ótima. Só que, para realizar a cirurgia ortopédica que estava marcada, ela teria que fazer exame de sangue. O exame detectou a microfilariose na corrente sanguínea. Pediram o ecocardiograma, pois se o verme estivesse grande seria difícil de ser tratado. Não apareceu nenhum verme adulto e há um mês estou fazendo tratamento com o vermicida”, disse a proprietária.
Ela, inclusive, já providenciou a coleira repelente para a cadela Melissa, que, segundo Yara, está bem. “Muita gente não confia na doença, porque ela é silenciosa, não dá sinais. Minha cadela não aparentava nada e apareceu com dirofilariose e se não tratasse, poderia acontecer o pior”.
A doença também acomete felinos, em escala menor do que em cães, e segundo pesquisa realizada no ano de 2006, a prevalência maior da doença aconteceu no Sudeste (17,2% de caninos infectados), indicando maior ocorrência em regiões litorâneas. A dirofilariose é considerada endêmica no Brasil e, em áreas onde as condições são favoráveis à presença de mosquitos infectados durante todo o ano, o risco de transmissão da doença aumenta consideravelmente.