Dólar Em alta
5,006
28 de março de 2024
quinta-feira, 28 de março de 2024

Vitória
27ºC

Dólar Em alta
5,006

A manada é mais solidária

“O processo de envelhecimento vivido pelo Brasil, associado a falhas na assistência e à falta de prevenção de quedas em idosos, faz com que o País enfrente hoje uma verdadeira epidemia das chamadas fraturas de fragilidade” – foi o que afirmaram, recentemente, especialistas reunidos no Congresso Brasileiro de Geriatria.
         Sobre este tema, li que “o idoso que sofre uma fratura de quadril deve ser operado em 24 horas ou, no máximo, em 48 horas, para que tenha mais chances de recuperação. Mas no Brasil ele espera até um mês, o que aumenta as chances de complicação e de morte”.
         Alguém aí desconhece algum caso de idoso brasileiro que tenha padecido, ou esteja padecendo, sob esta realidade? Seja afetando um amigo, parente ou vizinho, a despreocupação para com os idosos já integra nosso cotidiano.
         Aliás, “despreocupação” talvez seja um termo muito ameno – chama a atenção que um país tão rico não consiga sequer proporcionar calçadas decentes, que evitem aos idosos lesões irreversíveis ou mesmo a morte. Seria “negligência”, talvez?
         Enquanto isso, no Reino Unido, um a cada sete abrigos de idosos não fornece sequer água e alimentos suficientes – recente inspeção encontrou-os desidratados e desnutridos. Nos hospitais, a situação não é melhor: um a cada cinco deles negligencia claramente os idosos.
         Não se pense em acaso: “salvar as vidas dos idosos é menos importante para a sociedade que salvar pessoas jovens”, declarou um representante do sistema de saúde britânico. Pois é. Talvez “negligência” seja uma palavra muito suave – que tal usarmos “desprezo”?
         No Japão, um ministro declarou que os idosos devem se apressar e morrer para aliviar a pressão sobre o Estado, responsável por pagar suas despesas médicas. Ouvi de um amigo que ele simplesmente verbalizou o que outros apenas pensam. Será? De toda sorte, refletindo melhor, talvez “desprezo” não seja o termo ideal para definir este quadro – fiquemos com “crueldade”.
         Na Holanda, estas “despesas médicas” deverão ser pagas pelos idosos através da prestação de serviços voluntários. No Reino Unido chegaram a uma conclusão distinta: é melhor simplesmente não fornecer medicamentos! Li, em um jornal de lá, que aproximadamente “13.000 pacientes de câncer deixarão de receber medicamentos a cada ano – particularmente idosos”, para poupar custos.
         Por falar nisso, 10% dos idosos da Indonésia foram “esquecidos” pela Previdência Social, e vivem na miséria. No Reino Unido, três milhões de idosos estão voltando ao trabalho por não terem como se manter com as pensões recebidas – inclusive, 200 deles morrem a cada dia, durante o inverno, por não terem como arcar com as despesas de aquecimento. Outros 1,5 milhão passam fome – triste dilema, morrer de fome ou de frio. Registro, finalmente, que um a cada 50, em desespero, acaba enveredando pela senda do crime! Pela Europa afora a realidade não é diferente: são 30% dos velhinhos passando fome – de alimentos e de dignidade.
         Por favor, me digam: não seria a expressão “crueldade” bondosa demais diante deste quadro? Talvez defina-o melhor uma outra: homicídio. Enquanto isso, meio que ao acaso, fiquei a meditar sobre os elefantes. Animais fabulosos, os elefantes.
         Acreditem: uma das primeiras cenas, talvez a primeira delas, que um elefantinho vê ao chegar neste mundo é a de membros da manada garantindo a segurança do parto! Notável, isso. Até no ocaso da vida os elefantes são sensíveis: quando um deles está velho, ferido ou doente, não depara-se jamais com o abandono. Muito pelo contrário: a manada fica ao redor, solidária e firme.
         Talvez algum dia, na canção imortal de Roberto Carlos, sejamos assim – civilizados como os animais.

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas